sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Les Windsor

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Enquanto há vida

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Deitava-se na cama, como no vazio.

A madeira rangia numa cadência irregular com estalidos secos. Não havia noite nem dia, apenas um mundo difuso, lá fora, num espaço que já não lhe pertencia. As memórias amareleciam as paredes que pressentia no escuro, no quarto que vozes abafadas, nascidas do passado, preenchiam. Era outra vida.

Ah, as saudades. E a impotência de as reviver, de construir nelas um presente nostálgico em que renascesse a esperança. Em vez disso, deixava-se ficar à deriva, sem que as emoções lhe fizessem descer uma lágrima pelo rosto sem expressão, nem lhe apertassem a garganta num nó aflito e trémulo.

A vontade que ainda pairava esbarrava nas intransponíveis barreiras físicas, erguidas pelo conflito mudo no dia-a-dia. Se tudo fosse mais fácil. Ou diferente, apenas. Talvez não bastasse.

O quarto em silêncio, um silêncio que se perdia no redemoinhar das ideias. Depois vinham misturar-se-lhe partidas que lhe pregava o pensamento, saltitando em pedaços irónicos da mesquinhez quotidiano. A frase ouvida na rua, a publicidade sem sentido no metro. E depois as sombras que se confundiam com o sabor de um jantar há muito terminado, com o tilintar dos copos que não se haviam enchido de novo, com o murmurar das vozes e dos sorrisos que há muito não correspondia.

Pudesse ao menos fugir. Queria fugir dali, ou ao menos do dramatismo. Mas era a esperança que lhe fugia. Teimava em agarrá-la, lamentando que ela não lhe correspondesse. A esperança havia de ter os dias contados. Depois dela, que se seguiria?

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Encantos lisboetas

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um homem de Vitrúvio

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Há pouco mais de cinco séculos nascia, em Pádua, um rapaz a quem deram o nome de Andrea. A condição singela da família dava-lhe apenas uma vida cuja dureza se assemelhava à da pedra que começou a talhar, ainda bem jovem, na oficina de um escultor da cidade.

Ao que parece, o mestre não seria dos melhores e Andrea parte para Vicenza. Pedra sobre pedra, alarga o seu mister à construção, orientado por um pedreiro e um escultor. Algum jeito havia para a coisa, ou não teria o Conde Trissino reparado no aprendiz, logo ele, uma das figuras de relevo da região, conhecido pelo gosto das artes e das letras.

Protegido pelo aristocrata, que lhe dera até novo nome, Palladio depressa mostra estar à altura da confiança depositada e revela grande talento nas coisas de cantaria e arquitectura. A primeira grande obra, uma villa para o filho de um grande proprietário de Vicenza, agradou. Desde então, inaugurou-se um fértil período de construções que rapidamente foram polvilhando a paisagem do Veneto, cujas as ideias Palladio bebia nos mestres da Antiguidade Clássica, de que Vitrúvio era um referência incontornável.

O arquitecto soube, contudo, acrescentar as suas próprias ideias, que foi conseguindo materializar à medida que o número de encomendas se alargava. A fusão dos saberes dos clássicos e das suas experiência construtivas, onde aplicava novas técnicas e proporções, resultou nos Quattro Libri dell'Architettura, tratado que lhe granjeou reconhecido mérito e acréscimo de fama. Até hoje.

Pelas suas dimensões e harmonia geométrica, a Villa Capri, ou la Rotonda, como passaram a chamar-lhe, tornou-se num ícone da obra de Palladio. Uma obra tão abundante quanto as sete décadas de vida do mestre lhe permitiam. Morreu numa casa simples, sem a imponência serena das residências que durante toda a vida havia projectado para os senhores da terra e que ainda se mantêm num tranquilo repouso por entre as verdejantes colinas do Veneto.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Rentrée

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Acabaram as férias do Belvedere.

Agora, se ainda restarem leitores, era simpático ver uns comentariozinhos aqui em baixo. Qualquer coisa do género «Boa! Mal posso esperar para voltar a ler os vossos disparates» ou «Ai, estava cheio de saudades de uma bela prosa».

Só para saber se ainda está por aí alguém...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sem título

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Depois de agradáveis e gentis, que agradeço à Maria, e outros que talvez o procurem ser, provenientes de figuras cujos costados fazem estremecer um qualquer membro do Terceiro Estado, entendi que devia esclarecer os leitores, ou o que deles resta, acerca de tão grande ausência de palavras.

Ora sucede que, por uma larga panóplia de vicissitudes, fugas ao quotidiano e decisões que comprometem o que ao futuro diz respeito, a imediata vítima destes sucessos e infortúnios foi o Belvedere.

Com a rentrée aproximando-se a passos largos, ditando os últimos dias ansiosos da silly season, a promessa que aqui deixo aos que permaneceram fidelíssimos, não digo leitores, mas antes expectantes espectadores, é a de trazer, juntamente com as primeiras folhas que na alvorada do Outono se desprendem das alturas de um plátano centenário, uma recuperado ritimo de escrita, mais regular, a este espaço e, quem sabe, com novo rosto e novo espírito.

Enfim, não é de mais deixar uma palavra aos que ainda se alcanduram no Belvedere, esperando para nele descortinar as ideias e os desacertos dos autores.

Até breve.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Le jardin

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Burocracias

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O mais natural depois de acabar uma licenciatura seria, depois de seis semestres de propinas, receber um papelinho a dizer que sim senhor, que resistindo a Bolonha havíamos vencido três anos não se sabe bem de quê. Era o mínimo.

Mas não. Para além da romaria aos serviços académicos, há que desembolsar cento e poucos euros (não é bonito andar assim a falar de dinheiro, mas que ele há coisas que irritam, há) para, note-se, mais de um mês depois se dignarem a imprimir um papelinho onde consta o nome, curso e notas e, suponho, um carimbo que autentique a coisa.

Que o mítico diploma, com direito a selo pendente e as inscrições em latim, seja demorado e bem pago ainda se compreende. Mas um papel, um simples papel com uma lista de classificações, ser quase uma espécie de convidado importante que se faz esperar, e não é pouco, é um simples abuso.

Será que o pessoal da secretaria que frequenta os cursos só para ascender na carreira e embolsar mais uns trocos ao fim do mês também anda assim tão desesperado por um certificado?

Quanto aos alunos a sério não tenho dúvidas. Os mestrados estão à porta e é preciso andar com isto para a frente. O pior é que se todos os documentos que hão-de ser necessários pela vida fora demorarem o mesmo tempo a ser emitidos, então o caminho vai ser bem demorado.

Love the look

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terça-feira, 29 de junho de 2010

Não é gago

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Afinal, la Rouchefoucauld estava certo.

Sunset

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Fôlego curto

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Nuestros hermanos venceram. Verdade difícil de ser aceite pelo orgulho lusitano, mergulhou o nosso pequeno rectângulo, entalado justamente no quadrado espanhol, num silêncio amargurado.

Para que conste, ter à minha frente num qualquer televisor, um jogo Portugal-Espanha no mundial sul-africano ou uma partida amigável de andebol no pavilhão desportivo das Pedrinhas de Baixo, surte exactamente o mesmo efeito. È um jogo, apenas um jogo. Ganhe-se e perde-se com a facilidade que a sorte e, claro está, as capacidades e o esforço permitem.

Portugal ficou-se pelo caminho. Pode até dizer-se que teve fôlego curto neste campeonato. O que, espero, tenha acontecido também com as vuvuzelas ou, na versão ignorância, vuzelas. Sopraram-nas com intensidade, mas por pouco tempo.

Resta esperar que a moda passe. E que daqui a dois ou a quatro anos, quando um novo evento futebolístico mergulhar os portugueses no maravilhoso mundo da inacção e das tolerências de ponto e horários de almoço prolongados, se lembrem de distribuir ao povoléu alguma coisa menos ruidosa.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Habitez-moi

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De luas

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Diz o povo, quando alguém parece ser inexplicavelmente inconstante, que é de luas.

Ora, há também quem diga que estes ditos populares algum fundamento hão-de ter. Eu começo a acreditar que sim. Agora que estamos em quarto minguante, tudo parece ter voltado à normalidade. Mas antes, com lua cheia, bem se passou um mau bocado.

É por isso que a expressão ser de luas vai deixando de me parecer tão popularucha e desadequada. Na semana do pleno arredondamento lunar o mundo, pelo menos o meu, esteve prestes a ruir. Os infortúnios, os desesperos, as frustrações e as ansiedades atingiram as dimensões de uma catástrofe sobre-humana. Paradoxalmente, nas noites mais iluminadas, nunca o cenário me pareceu tão escuro. Desalento é um adjectivo insuficiente para classificar certo estado de espírito.

Mas enfim, vai-se a ver e, agora que o disco lunar vai desaparecendo a cada dia, até ficar completamente oculto, as coisas retomam o caminho do costumado quotidiano. Relativizam-se os dramas, o que parecia irremediável deixa de o ser e o que julgámos impossível de acontecer passa-se ali, mesmo à nossa frente.

Que o satélite onde, dizem, até já chegou uma cadela russa, influência marés e mais qualquer coisa, isso é sabido. Mas ter o poder de, ou distorcer os factos ou, pelo menos, a forma de os encarar, é um nadinha mais duvidoso.

Bom, qualquer semelhança com um post pseudo-esotérico-astrológico é puro acaso. Só queria mesmo tentar perceber se a vida é de luas. Ou apenas serei eu?.

domingo, 27 de junho de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 26 de junho de 2010

Fim de tarde

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Era um dia como outro qualquer.

Era um dia como outro qualquer. O jardim vazio, por ser sábado, a roçar o entardecer. Nos bancos, as mesmas personagens. O bêbado desabrigado, a cigana sisuda a chinelar, a avó descuidada fumando tranquilamente um cigarro ao lado da neta ingénua e pálida. A um canto do arvoredo, o roçagar de vozes soalheiras na esplanada do quiosque. Uma mulher passeia o cão, despudorado, a alçar a pata sem hesitações.

Era um dia como outro qualquer. Das casas meio adormecidas, abrigadas do sol pelas janelas cerradas, esgueiravam-se farrapos de conversas, de zangas, de músicas sem gosto, de choros de crianças birrentas aborrecidas pela pasmaceira da tarde. Nos beirais, os pássaros chilreavam sem emoção, obrigados apenas a quebrar o silêncio monótono da tarde.

Era um dia como outro qualquer. Gente passeava, na tranquilidade de um dia que não foi de trabalho. E turistas, de roupas leves, linhos e alças, ar descontraído e ruborizado, naquele tom encarniçado de quem estranha o sol da praia lusitana. Apontam para os chafarizes e estátuas em que mais ninguém repara, por a gente que ali desfila diariamente se ter habituado a ver esses pedaços de pedra sem os olhar, no corrupio do quotidiano sem tempo.

Era um dia como outro qualquer. Das chaminés arrepicadas começava a desprender-se preguiçosamente o fumo dos primeiros jantares, cozinhados na impaciência de quem com eles perde tempo ou preparados na satisfação de haver comensais a quem servir o manjar saído da mão própria. Um cão latia, distante, guardado na algum quintal que os portões verde escuro ou os muros onde uma trepadeira se enrolava escondiam.

Era um dia como outro qualquer. O sol escorregava lentamente para as águas do Tejo, sereno, quebrado apenas pelo zumbir da ponte. O telhados fundiam as formas angulosas numa só mancha cinzenta, recortada contra o poente. Um silêncio, tão vago quanto misterioso, ocultando tantas vidas detrás das paredes coloridas, cobria a cidade, pousava suavemente em cada colina, em cada rua esquecida.

Era um dia como outro qualquer. Mas podia ter sido o último.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Back to the 60's

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Quem fala assim

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On n'est jamais si heureux ni si malheureux qu'on s'imagine.

La Rouchefoucauld

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Na moda

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Chapéus, há muitos

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Terminou há poucos dias o desfile de excentricidade nas corridas de Ascot.

Nem de propósito, já que se fala em tradições, este ano os organizadores das célebres corridas, nas quais a Rainha faz questão de comparecer, viram-se obrigados a advertir alguns dos presentes sobre o trajar adequado a semelhante evento.

Ora, para quem não sabe ou, remota hipótese, ainda não esteve lá, o dress code passa por chapéu alto e casaca para os cavalheiros e vestido e chapéu, preferencialmente extravagante, para as senhoras. Como isto agora está, literalmente, tudo virado do avesso, alguns estouvados revolucionários optaram por indumentárias mais simples, desviando-se dos padrões tradicionais.

É que se um chapéu feito de lego pode fazer um vistaço em Ascot, o mesmo não se pode dizer de um senhor de cabeça descoberta ou de uma jovem de mini-saia. Portanto, como nas ilhas os britânicos não brincam em serviço, vai de pôr tudo na ordem. Corridas como manda a tradição, sim senhor, mas com traje a rigor. Chapéus irreverentes, muito bem, mas quaisquer outras inovações ficam à entrada do recinto.

Quanto tempo resistirá Ascot às pressões das tendências casuais não sabemos. Mas até lá, o melhor é escolher bem. Porque chapéus, há muitos.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cap d'Antibes

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terça-feira, 22 de junho de 2010

O príncipe encantado

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A jovem Vitória da Suécia, quase uma «princesa do norte, do país da neve fria» como a velha cantiga reza, casou este sábado, não com o mouro da tradição, não com o príncipe encantado ou o cavaleiro andante mais cotado, mas sim com o seu personal trainer.

Verdade seja dita, o costume não é de todo inédito. Filipe de Espanha perdeu-se de amores pela jornalista Letizia e o próprio pai Carlos XVI Gustavo casou com a filha de um empresário germânico.

Esta coisa dos enlaces reais parece ter-se tornado um negócio exclusivamente do coração. Nada de casamentos impostos, amores proibidos, dramas domésticos à melhor maneira de Hollywood ou das novelas da Globo. Se para as cabecinhas mais liberais toda esta coisa de deixar o amor triunfar é muito bonita, os conservadores torcem o nariz a esta espécie de perversão dos costumes e da boa tradição. Então agora a realeza junta-se com a plebe? E pior, a lei da sucessão passa a preocupar-se unicamente com a primogenitura, ignorando completamente o sexo do herdeiro?

Diz o bordão que a tradição já não é o que era e, para o bem e para o mal, não é mesmo. Quanto ao príncipe encantado, e a realidade assim o prova, não passa de mera ilusão. E parece que até as princesas, aquelas de carne e osso com direito a coroa e a castelo, já perceberam a verdade deste refrão.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

l'Été

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domingo, 20 de junho de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 19 de junho de 2010

Memorial

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Contar boas histórias é mister trabalhoso. Não basta converter em caracteres as ideias que a imaginação fabricou, é necessário dar-lhes a mesma alma e vivacidade com que habitam o nosso interior.

Com isto de os jornalistas escreverem romances em vez de notícias, tornou-se banal romancear cruamente passados e presentes, polvilhados aqui e ali com parágrafos que querem atestar a pesquisa histórica feita pelo autor. Diz até que têm sucesso, que se lêem bem, que dão mesmo para adaptações no grande ou no pequeno écran. Caem no goto porque não fazem pensar. Dão para ler no metro ou numa sala de espera porque nenhuma frase merece ser lida duas vezes, seja pela ideia ou pela estética.

Em Saramago fundiam-se ambos os prazeres. As histórias eram boas, bem envolvidas pela escrita afastada dos espartilhos da gramática, que a mente também não conhece. Talvez por isso, os diálogos, completamente diluídos nas frases vastas como o oceano, pareciam mais vívidos que nunca, com tanta emoção nas palavras escritas como naquelas que as personagens pronunciassem. Depois a ideia, a fluidez da páginas que correm num fio contínuo até ao final em que a história se dilui suavemente. Primeiro estranhou-se, depois entranhou-se.

Resta agora a obra de meio século e a marca que a sua morte deixa por cá, na árida placidez de Lanzarote ou no confuso país onde a terra acaba e o mar começa. O vazio que Saramago abre, esse, permanecerá. Como ele próprio disse n’A Caverna. Mesmo que o tempo tudo cure, não vivemos o bastante para tirar-lhe a prova.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Back to the 60's

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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Tesouros escondidos

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A província, que é como quem diz Portugal, guarda nas cidades, nas pequenas vilas e nas velhas aldeias, grandes tesouros que mal se imaginam existir.

O museu de José Malhoa, ali em Caldas da Rainha, é uma dessas jóias meio escondidas pela distância da capital. O espólio de Malhoa, reunindo peças de vários museus da capital, aquando da sua criação na década de 30, em nada se envergonha diante das colecções do Museu de Arte Contemporânea (que deixa, diga-se, muito a desejar) e de outras instituições.

Escondido no Parque que depois se baptizou com o nome de D. Carlos I, os turistas e visitantes descobrem-no de repente, depois de se mirarem nas águas meio turvas do lago onde planam cisnes serenos. Lá dentro, das salas por onde se avistam os arvoredos do jardim, guardam-se obras do pintor caldense e de outros nomes do realismo e naturalismo nacionais. Segredo ainda mais bem guardado é a biblioteca, com um simpático acervo centrado nas artes, constituída sob o patrocínio da Fundação Gulbenkian.

Mesmo que não se admirem as secas cavacas ou a delicadíssima louça, de um requinte e bom gosto inenarráveis, as telas de Malhoa merecem uma vista de olhos. Ainda por cima a dois passos de Óbidos, a visita não será em vão.

Ah, e durante o horário de funcionamento do museu é possível ver o pincel do pintor, salvo seja, na estátua que fica em frente à entrada principal. É que, ao cair da noite, tira-se-lho da mão, não vá o diabo tecê-las.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

When the old is better

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Quem fala assim

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Un homme à qui personne ne plaît est bien plus malheureux que celui qui ne plaît à personne.

La Rochefoucauld

terça-feira, 15 de junho de 2010

Habitez-moi

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segunda-feira, 14 de junho de 2010

Mão-de-obra

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A cultura chinesa ainda hoje fascina muita gente.

Compreende-se. Nós, monstruosos ocidentais, não vivemos em casinhas de papel, não andamos com os pezinhos em arrozais nem bebemos, de pernas cruzadas no chão, chá em porcelanas coloridas. Há depois toda uma panóplia de dragões e queixas que compões o cenário exótico do Oriente. Eles parecem estar muito bem e falam em cultura milenar. Os ocidentais, menos satisfeitos, preferiram guardar apenas meia dúzia de tradições deturpadas e tratar com estranheza e desconfiança o que vem do outro lado Mundo.

Agora, com esta coisa de uma Exposição Universal em Shanghai, foi a vez de a China receber a presença de outras paragens do planeta azul. Portugal fez questão de se ir mostrar e decidiu pegar na cortiça, essa fascinante matéria-prima da qual se fazem, assim que me lembre, rolhas. Pronto, ainda há os revestimentos acústicos ou a bela da chinelinha, mas nada que prime pelo fantástico ou que possa pôr os chineses de olhos ainda mais em bico.

Mas não, afinal pode mesmo. A cortiça que forra o pavilhão português na exposição fez tanto sucesso que os senhores chino-nipónicos, de que é feita grande parte da massa dos visitantes, decidiram levar para casa pedacinhos de cortiça, assim como quem arranca um pedaço de rocha de uma gruta de aparições ou traz um cantil com água do Jordão.

Por este andar, e se não forem tomadas medidas, não vai haver grande trabalho a desmontar o espaço quanto terminar Shanghai 2010. Até lá, os visitantes terão feito o trabalho. E, pasme-se, sem cobrar nada por isso.

domingo, 13 de junho de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 12 de junho de 2010

Tradições

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Back to the 60's

 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ditosa pátria

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Que é feriado, toda a gente repara. Mas nem sempre se percebe muito bem o motivo pelo qual o proletariado se regozija de uma folga extraordinária.

O celebrado poeta Luís Vaz de Camões, endeusado e celebrado pela sua epopeia lusíada, finou-se a 10 de Junho de 1580. Três séculos depois, quando a monarquia vergava já sob o peso da contestação vinda de todas as partes, os republicanos assumiram um protagonismo alargado nas comemorações do III centenário da morte do poeta.

Volvido o 5 de Outubro de 1910, a república quis fazer esquecer os festivos dias religiosos e substituí-los por datas cívicas e laicas que preferencialmente a dignificassem enquanto novo regime. Foi assim com Camões, data próxima da de Santo António, aquele que oscila entre Pádua e Lisboa, deixando manter a tradição de uma festa popular ali em meados de Junho.

O Estado Novo deu-lhe outro uso e fez sobressair os lusíadas daquele tempo e de outros, a raça portuguesa e bem nacional. Passou a dia de Camões, de Portugal e da Raça. Um tempo depois, quando a guerra com as colónias tomava conta dos olhares superiores, passou a servir para mostrar o poderio militar da nação portuguesa.

Enfim, quando floriram cravos em Abril, trocou-se a raça pelas comunidades, na busca de uma sonoridade mais distante da do regime e que lembrasse os emigrantes espalhados pelo globo. Curioso é que, mesmo hoje, em 2010, a celebração faz ponto de honra na bela da parada militar. Afinal, não se ultrapassou assim tão bem as ideologias anteriores a 1974. Se pode parecer ultrapassado? Sim, mas sempre se põem as Forças Armadas em movimento.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

À la Romanov

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terça-feira, 8 de junho de 2010

Quem fala assim

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Nous ne trouvons guère de gens de bon sens que ceux qui sont de notre avis.

La Rouchefoucauld

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Habitez-moi

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Carlota

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Era uma vez uma princesa belga que casou com um arquiduque austríaco e foi viver para um castelo à beira-mar… Este poderia ser o início de um conto de fadas com final feliz, mas a história não foi bem assim.

Carlota da Bélgica e Maximiliano da Áustria casaram em Julho de 1857, ainda jovens, com a doçura dos ideais de quem imagina poder moldar o futuro a seu gosto e ter nele um papel principal. O arquiduque, demasiado liberal para o gosto de Francisco José, seu irmão e marido de Sissi, ambicionava transformar a sociedade daquele tempo e Carlota, filha de um rei, sonhava certamente em tornar-se rainha.

Por esse tempo, do outro lado do Atlântico, o México atravessa um período difícil da sua vida de nação. A guerra civil e as revoltas minavam-lhe a estabilidade e tornavam-no presa fácil para outros Estados com ambições imperialistas. Assim era na França de Napoleão, o terceiro de seu nome, que via no Novo Mundo uma via para expandir a sua influência. Para assumir o restaurado império mexicano seria necessário um príncipe europeu, um imperador que tivesse a proeza de reunir consenso e consolidar finalmente a paz no velho território azteca.

Na Europa, ofereceu-se a coroa imperial a Maximiliano. E se o príncipe estava relutante, logo a convicção de Carlota, vendo ali a sua coroa de imperatriz, o convenceu do quão extraordinário seria poder construir na América o império sonhado por ambos. Aceitaram. E, em 1864, na Catedral que agora quase afunda nos terrenos instáveis da velha Tenochtitlan, a princesa foi ungida imperatriz do México.

O sonho durou pouco. Não havia quem deitasse mão às desavenças da gente mexicana. Napoleão, com receio de ter ido demasiado longe, foi abandonado Max às mãos do pueblo e o clima de crispação subiu de tal forma que Carlota, numa derradeira tentativa de salvar o império, embarca rumo ao Velho Continente para buscar auxílio. Enquanto se ajoelhava diante do Papa e dos monarcas seus parentes implorando uma salvação, o seu esposo era julgado por revolucionário que o condenaram à morte. Fuzilamento.

A imperatriz, que entretanto deixara de o ser, nunca voltou a cruzar o oceano. Restou-lhe o desalento da viuvez precipitada e uma loucura que lhe quiseram diagnosticar, mesmo que os psicólogos e psiquiatras não fossem ainda os seres essenciais à existência humana em que hoje se tornaram. A história idílica da princesa transformou-se no conto triste da mulher confinada ao castelo de Miramare, que o par recém-casado construíra perto de Trieste, à beira da tranquilidade azul do Adriático.

Deixou de olhar o mar em 1927, sempre convicta de que o seu marido estava vivo e de que ela, Carlota, era ainda imperatriz do México.

domingo, 6 de junho de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 5 de junho de 2010

Futebol & cornetas

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Querem apoiar a selecção, apoiem. Mas se puderem fazê-lo com um nadinha menos de ruído, agradecia. É que já não há paciência para o raio das vuvuzelas que andam aí a ser distribuídas abundantemente pelas gasolineiras. Que o raio do nome fica no ouvido, lá isso fica, mas o que também fica no ouvido é o som que produzem e que os apoiantes sopradores têm todo o gosto em emitir.

Isto já se sabe que com o verão os cérebros reduzem substancialmente a actividade pensante, mas não cheguemos a tanto. De dois em dois anos é isto. Mundial ou europeu, estão aí os campeonatos para absorver as preocupações nacionais e erguer bem alto o patriotismo lusitano, mesmo que o país vá definhando e não apenas por culpa do calor estival.

Crise? Não. Vamos todos para a África do Sul, que como toda a gente sabe fica logo ali e até se arranja uma low-cost baratinha que atravesse um continente em uma ou duas horas, e toca a ir fazer barulho para apoiar o jogadores de futebol, cuja actividade é deliciosamente produtiva.

A propósito de patriotismo, está mesmo a ver-se que os portugueses hão-de chegar à Cidade do Cabo e fazer uma grande festa por ali terem passado, vai para quinhentos anos, os ousados navegadores portugueses, que eram assim uma espécie de incríveis do século XVI.

O que é mesmo incrível é a cobertura mediática desta coisa da selecção. Então o joelho do Pepe, que por sinal é tão português como a senhora que lava as escadas do meu prédio, merece um directo no telejornal? Já agora podíamos ter mais flashes informativos, do género «Ronaldo indisposto pede água das pedras» ou «Deco (outro puro sangue lusitano) anda com pesadelos e insónias».

O que peço é apenas bom senso. Ah, e se não for abusar, gostava que o senhor que a noite passada exercitou os seus dotes vuvuzelísticos na minha rua, fosse tocar a corneta para outro lado. E pronto, era isto. Notou-se muito que não gosto de futebol? Hum, espero que não.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Archivo Photographico

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O casamento d'El-Rei D. Manuel II

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sex. And what?

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Vox populi

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Viúva rica, solteira não fica.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Recantos alfacinhas

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Pudores

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Na minha costumada busca por efemérides fiquei a saber que Donatien Alphonse François de Sade, que é como quem diz o marquês de Sade, comemoraria hoje o seu aniversário. Ainda pensei num texto catita, assente na malícia subtil, ilustrado com o retrato de Sua Excelência.

Ora sucede que, não querendo eu ferir as susceptibilidades dos meus estimados e abundantes leitores que serão, em números redondos, uns dois ou três, rejeitei o textozinho maroto. E depois de buscar incessantemente imagens do marquês, coisa rara por estas bandas, percebi que são as imagens porno-obscenas, onde abundam representações de coitos e de extraordinárias posições anatómicas, a surgir na pesquisa do Google.

Moral da história, se bem que moral e Sade são uma daquelas combinações impossíveis, fiquei-me por este parêntesis. Só para informar os leitores sem, claro, lhes causar constrangimentos de maior.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Les enfants royaux

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Velha infância

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A nostalgia e o saudosismo não levam a lado nenhum. O importante é aproveitar o momento, ao jeito da velha máxima carpe diem, e preparar um futuro simpático. Mas é quase impossível não recordar o passado, parte que é tão nossa como o devir.

Hoje, primeiro dia de Junho, já se sabe que é criança para aqui, criança para ali, vamos todos fazer rodinhas e brincar para o jardim. E torna-se quase inevitável recordar esses longínquos momentos, bom, talvez não tão longínquos, em que as nossas preocupações se resumiam a tentar conseguir dos papás mais brinquedos e passar o maior número possível de horas de ócio e lazer.

No colégio, já com cheiro a verão, organizavam-se jogos, piqueniques, passeios à mata, visitas a outros sítios que celebravam com o mesmo entusiasmo o dia da criança. Nós delirávamos. Ah, somos tão importantes e não sei quê, as crianças são isto, são aquilo, chegam mesmo a ser o melhor do mundo. Eu desconfio da afirmação, com a distância que uma década me permite.

Então não é por essa altura que a nossa crueldade está mais evidente? Se depois de crescidinhos aprendemos a refrear alguns instintos assassinos no contacto com certas pessoas, em tenra idade não nos preocupamos nada em denegrir a imagem dos outros pequenos, gozá-los descaradamente, infligir um empurrãozito ou maus-tratos semelhantes. E o drama da inconveniência? Ouvir o que não se deve e reproduzi-lo diante de quem seria impensável é mais um cliché desses tesourinhos maravilhosos que são os nossos rebentos.

A verdade é que, a julgar pelo panorama actual, este dia vai tornar-se em breve uma espécie de dia de emancipação. Com dez ou doze anos a criança é senhora de si. Sai à noite porque os amigos saem, assume o controlo da vida dos pais, sente-se a criatura mais importante à face da terra e acha que é seu dever orientar os outros de acordo com o que julga conveniente. Se já tem problemas na sua vida naturalmente atribulada de pré-adolescente, mete-se no psicólogo. E ai do professor que, já sem poder fazer uso da palmatória, admoeste o filho de pai alheio.

Ora, não seria de estranhar que um dia, mais próximo do que se imagina, a declaração dos Direitos da Criança se transforme numa declaração de Independência. Até lá, é deixá-los fazer passeios ao ar livre e jogar muitas horas de consola. Pode ser que esqueçam o resto e se lembrem que são apenas crianças.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

La paix

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Constantinopla

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Foi por estes dias que Constantinopla caiu. Não foi um simples tropeção ou uma escorregadela ligeira, mas uma queda à séria, com um tombo de tal ordem que o Império Bizantino ficou com os dias contados.

Estava-se em 1453. Os otomanos, naquela gulodice costumada que os impérios têm por novos territórios, iam tomando os locais que outrora haviam sido do Império Romano e andavam de olho na cidade de Constantino, preparando-lhe há muito um assédio insistente.

As muralhas e os súbditos bizantinos provaram ser resistentes. A cidade estava cercada, as muralhas eram alvo de ataques otomanos e mesmo assim faziam-se esforços para reparar os muros e reforçar as defesas. Uma corrente havia sido colocada sob a água, no Corno de Ouro, para que os navios inimigos não pudessem aproximar-se. Estratégia eficaz até o sultão se lembrar de rebocar os navios por caminho seco, até contornar a corrente e penetrar do interior do golfo, mesmo diante da cidade.

A resistência enfraquecia. Maomé II trazia consigo um canhão de dimensões descomunais, com que ia desgastando os muros que protegiam Bizâncio. Um eclipse, tempestades e outras coisas que tais eram entendidas como maus presságios para os sitiados. Não se enganavam muito. Os muçulmanos preparavam um ataque em força, uma espécie de golpe de misericórdia, para encerrar de vez o capítulo da tomada de Constantinopla.

Deu-se a vitória. O imperador, o décimo primeiro Constantino, foi visto a desaparecer na massa dos combates e logo o sultão entrou triunfante numa das cidades mais cobiçadas a oriente. O seu simbolismo era tal que se tornou capital desse mesmo Império Otomano, exibindo com orgulho o poderio muçulmano.

A cidade permanece, ali entre um continente e outro. Os impérios correram os séculos, preguiçosamente. Se o herdeiro oriental do Romano se estendeu até meados do século XV, o Otomano que se seguiu aguentou-se até 1922. Oito anos depois veio a república, que, à semelhança do que por cá se fez, remexeu e alterou a toponímia da tradição. Desde 1930, a capital da Turquia passou a chamar-se Istambul.

Porque os tempos mudam as vontades, a cidade que os otomanos tomaram ao ocidente quer chegar-se à Europa onde já cintilam vinte e tal estrelinhas. O provérbio diz que a União faz a força. Cá estaremos para ver.

domingo, 30 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 29 de maio de 2010

All you need is love!

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Garden-party

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É já para a semana. Quem não espera ansiosamente por um piquenique no Parque? Pronto, só pelo piquenique talvez não, mas um onde esteja presente o Tony Carreira… bom, aí o caso muda de figura.

Pois é. O coraçãozinho verde de Lisboa vai encher-se de gente para petiscar ao som do mais famoso cantor… hum… romântico. Dizer pimba poderia ferir susceptibilidades. E assim, no próximo sábado, haverá no Parque Eduardo VII uma concentração deliciosa de tupperwares, sandochas, bejecas, caracóis e tudo o mais que a gíria gastronómica popular permite.

Claro que não podemos esquecer a algazarra familiar, os gritos das crianças, as ordens esganiçadas das mães, as gargalhadas e o catarro dos chefes de família, a juntar ao harmonioso boné, à t-shirt da selecção, ao chinelo que exibe os orgulhos joanetes.

E, qual cereja em cima do bolo, que neste caso há-de vir embrulhado em guardanapos de papel, há ainda o palavrão, a asneira que naturalmente se desprende dos lábios gordurosos dos convivas, o nome dos rebentos lançado no ar, clamando pelos rubens, ronaldos, vanessas e marlenes deste mundo e da outra banda.

Bons tempos, aqueles em que o reles piquenique se tornava numa simpática garden-party. Com aprumo, as senhoras e os cavalheiros, nos seus trajes claros, cavaqueavam pela relva gozando dos ares lavados da natureza. As merendas, trazidas por lacaios, eram confeccionadas com o mesmo cuidado que se poria num jantar oficial servido na melhor baixela da casa. Sem esquecer as boas maneiras, o ambiente descontraído propiciava a conversa ligeira e as apresentações menos formais e mais apetecíveis.

Entre uma e outro, passou mais de um século. O encanto de pequenas coisas tornou-se no espectáculo indiferente para as massas. Pegue-se na ideia clássica do momento de lazer ao ar livre, em nada discutível, junte-se-lhe o patrocínio de uma marca e um cantor que comove desde a senhora das limpezas até à porteira, depois um espaço bem no centro da cidade, para dar um contraste interessante, e eis a receita ideal para um encantador sábado popular.

Perdida que está a esperança no regresso dos bons hábitos da garden-party burguesa, torça-se para que o piquenique popular não rejeite as preocupações ecológicas. Se a derrocada da sociedade parece inevitável, ao menos que se poupe o ambiente.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Archivo Photographico

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O escriptor Eça de Queiroz

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Habitez-moi

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Veneza do norte

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Há pouco mais de três séculos, o czar Pedro I lançava a pedra inaugural de uma nova cidade, aos pés do Báltico, pensada para servir de capital a todas as Rússias.

Nascida da força de milhares homens e da vontade de apenas um, São Petersburgo emergiu dos pântanos com a força que a pedra lhe trazia. O czar proibira expressamente construções de madeira, que, entendia a Real pessoa, não eram de bem num local que ambicionasse reproduzir Paris ou Viena.

Ao jeito de Veneza, foi crescendo por entre canais que drenavam o lodaçal dos terrenos. Ponte aqui, fortaleza ali, palácio acolá, a cidade foi ganhado cor, forma e alma no desejo de se mostrar digna das escolhas dos seus habitantes imperiais. Num romance eterno com o rio Neva, nome que não podia calhar melhor nos glaciais invernos russos, envolvendo-se na brancura das noites, tornou-se um ícone da aura mágica que envolve a distante Mãe-Rússia.

Ganhou personalidade e vontade própria. Europeizou-se mas sem perder aquela pitadazinha de cúpulas em bolbo, das iconóstases das catedrais ou dos delírios barrocos das fachadas nobres das grandes casas. Assistiu a revoluções, mortes trágicas, passou fome e todas as privações. Mudaram-lhe o nome mas depressa retomou o baptismo original.

Pedro, o Grande, ou Catarina II, do mesmo tamanho, deixaram sobre a cidade a força das suas vontades. Depois, os czares menos temerários refastelaram-se nos palácios de veraneio em torno da cidade. Pavlovsk, Tsarskoe Selo ou Gatchina tornaram-se planetas satélites da grande cidade, em torno da qual gravitava a corte imperial, receosa de atentados e multidões enfurecidas na Praça do Palácio, fosse verão ou inverno.

Petrogrado, Leninegrado, ou Petersburgo, o rosto não lhe muda. Marcado por fortes cicatrizes, que dificilmente sararão por completo, há-de manter o encanto e, a cada dia que passa, mergulhar mais docemente no manto nostálgico que a envolve suavemente.

Get a crown

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Vittorio Emanuele di Savoia

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Long live the Tsar

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Da idade

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Celebra hoje o octogésimo oitavo aniversário.

O grande mérito é o de ser uma daquelas figuras que sente a necessidade de fazer, de caminhar ao longo do tempo e da vida com a força de quem quer e sabe o quê. Foi como funcionário público que começou, qualquer coisa como engenheiro de segunda classe, naquela hierarquia complexa que estrutura(va) a administração pública. Colaborou no projecto dos jardins da Gulbenkian, premiados em 1975, onde já dava mostras das fortes preocupações ambientais e ecológicas que têm acompanhado o seu trabalho.

Ao mesmo tempo, militava pelas causas que abraça com convicção. Militava na Juventude Agrária, depois em sessões do Centro Nacional de Cultura que discordavam das orientações do regime. Apoiou Humberto Delgado.

Depois da revolução, foi entrando pelo governo. Responsável pela Secretaria do Ambiente, chegaria a ministro da Qualidade de Vida, infelizmente extinto, talvez por correr o risco de se tornar um ministério sem funções. Elegeu-se deputado outras tantas vezes, concorreu à Câmara Lisboeta e ainda fundou o Partido da Terra.

Deu aulas, consagrando-se em Évora. O Jardim de Amália, bem no topo do Parque, a ele se deve também, projecto quando a idade não permite grandes coisas à maioria.

Ainda hoje é um gosto vê-lo passar, na rua ou no metro. Ao caminhar, mãos cruzadas e rosto firme, deixa no ar a certeza de que a idade não é prova de nada, muito menos de incapacidade. E é um gosto ver crescer a sua obra, mesmo que já bem perpetuada, com o Caminho Verde de Monsanto, a convidar a passeios de bicicleta e saberá o arquitecto quantos mais projectos ainda lhe traçará o pulso.

Velhos, só mesmo os trapos.