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Há pouco mais de três séculos, o czar Pedro I lançava a pedra inaugural de uma nova cidade, aos pés do Báltico, pensada para servir de capital a todas as Rússias.
Nascida da força de milhares homens e da vontade de apenas um, São Petersburgo emergiu dos pântanos com a força que a pedra lhe trazia. O czar proibira expressamente construções de madeira, que, entendia a Real pessoa, não eram de bem num local que ambicionasse reproduzir Paris ou Viena.
Ao jeito de Veneza, foi crescendo por entre canais que drenavam o lodaçal dos terrenos. Ponte aqui, fortaleza ali, palácio acolá, a cidade foi ganhado cor, forma e alma no desejo de se mostrar digna das escolhas dos seus habitantes imperiais. Num romance eterno com o rio Neva, nome que não podia calhar melhor nos glaciais invernos russos, envolvendo-se na brancura das noites, tornou-se um ícone da aura mágica que envolve a distante Mãe-Rússia.
Ganhou personalidade e vontade própria. Europeizou-se mas sem perder aquela pitadazinha de cúpulas em bolbo, das iconóstases das catedrais ou dos delírios barrocos das fachadas nobres das grandes casas. Assistiu a revoluções, mortes trágicas, passou fome e todas as privações. Mudaram-lhe o nome mas depressa retomou o baptismo original.
Pedro, o Grande, ou Catarina II, do mesmo tamanho, deixaram sobre a cidade a força das suas vontades. Depois, os czares menos temerários refastelaram-se nos palácios de veraneio em torno da cidade. Pavlovsk, Tsarskoe Selo ou Gatchina tornaram-se planetas satélites da grande cidade, em torno da qual gravitava a corte imperial, receosa de atentados e multidões enfurecidas na Praça do Palácio, fosse verão ou inverno.
Petrogrado, Leninegrado, ou Petersburgo, o rosto não lhe muda. Marcado por fortes cicatrizes, que dificilmente sararão por completo, há-de manter o encanto e, a cada dia que passa, mergulhar mais docemente no manto nostálgico que a envolve suavemente.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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