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Uma multidão serena espraia-se diante da varanda da Casa Rosada, onde Evita canta para a multidão. A encenação musical guardou para a história uma imagem idílica de Eva Duarte, Perón por casamento, rosto que a Argentina confunde consigo mesma.
Nascida a 7 de Maio, no mesmo ano em que, por cá, o azeite Gallo começava a cantar, a ambição que lhe crescia em pequenina, materializou-se na mulher já adulta. Na simplicidade rústica que conhecia, sonhava com uma vida de glamour e boémia, de sucesso e bem-estar. Julgavam-na iludida, mas nas voltas que a vida dá, e nas voltas que Eva deu até Buenos Aires, conheceu o general que havia de a levar, primeiro à varanda, depois ao mundo.
Viviam-se tempos difíceis. Juan Domingo Perón assumiu a Argentina em 1946 e moldou um estado de gosto autoritário e paternalista, como os que iam também pontilhando pela Europa. Aos descamisados, à gente rude e sofrida, do campo e das fábricas, Eva, Perón desde 1944, surgia como a mãe protectora, a alma desvelada, a matrona das obras sociais. Com carinho, chamaram-lhe Evita, sem saber do conforto e dos caprichos que desfilavam do outro lado das paredes rosadas da Casa, erguida entre a Plaza de Mayo e o rio da Prata.
Trinta e três anos apenas, que a vida não se alongou mais, bastaram para construir o mito. Quiseram canonizá-la, puseram-lhe o nome numa cidade e os anos não travaram a discussão. Santa, cruel adversária política, impiedosa ou simplesmente mulher? Uma mulher ambiciosa, implacável e simultaneamente consciente do seu papel simbólico numa nação que o tempo tornou nostálgica?
A resposta é daquelas que a disparidade de olhares e de ideias não permite. A História, volúvel e inconstante como os homens que a fazem, nunca a encontrará.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
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