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A nostalgia e o saudosismo não levam a lado nenhum. O importante é aproveitar o momento, ao jeito da velha máxima carpe diem, e preparar um futuro simpático. Mas é quase impossível não recordar o passado, parte que é tão nossa como o devir.
Hoje, primeiro dia de Junho, já se sabe que é criança para aqui, criança para ali, vamos todos fazer rodinhas e brincar para o jardim. E torna-se quase inevitável recordar esses longínquos momentos, bom, talvez não tão longínquos, em que as nossas preocupações se resumiam a tentar conseguir dos papás mais brinquedos e passar o maior número possível de horas de ócio e lazer.
No colégio, já com cheiro a verão, organizavam-se jogos, piqueniques, passeios à mata, visitas a outros sítios que celebravam com o mesmo entusiasmo o dia da criança. Nós delirávamos. Ah, somos tão importantes e não sei quê, as crianças são isto, são aquilo, chegam mesmo a ser o melhor do mundo. Eu desconfio da afirmação, com a distância que uma década me permite.
Então não é por essa altura que a nossa crueldade está mais evidente? Se depois de crescidinhos aprendemos a refrear alguns instintos assassinos no contacto com certas pessoas, em tenra idade não nos preocupamos nada em denegrir a imagem dos outros pequenos, gozá-los descaradamente, infligir um empurrãozito ou maus-tratos semelhantes. E o drama da inconveniência? Ouvir o que não se deve e reproduzi-lo diante de quem seria impensável é mais um cliché desses tesourinhos maravilhosos que são os nossos rebentos.
A verdade é que, a julgar pelo panorama actual, este dia vai tornar-se em breve uma espécie de dia de emancipação. Com dez ou doze anos a criança é senhora de si. Sai à noite porque os amigos saem, assume o controlo da vida dos pais, sente-se a criatura mais importante à face da terra e acha que é seu dever orientar os outros de acordo com o que julga conveniente. Se já tem problemas na sua vida naturalmente atribulada de pré-adolescente, mete-se no psicólogo. E ai do professor que, já sem poder fazer uso da palmatória, admoeste o filho de pai alheio.
Ora, não seria de estranhar que um dia, mais próximo do que se imagina, a declaração dos Direitos da Criança se transforme numa declaração de Independência. Até lá, é deixá-los fazer passeios ao ar livre e jogar muitas horas de consola. Pode ser que esqueçam o resto e se lembrem que são apenas crianças.
terça-feira, 1 de junho de 2010
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