quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Estrategicamente esperava-me.

Olhei-o de soslaio, conheço-o bem! Preferi não ligar e concentrar-me no que estava a fazer. Mas era demasiado tentador, lá continuava ele, no meio dos outros, todos iguais, todos a chamar-me numa voz muda «vá lá Miguel, já passou tanto tempo desde a última vez!»
Era verdade… a minha mente enfrentou um turbilhão de ideias e perspectivas de futuro. Finalmente, decidi-me. Entre as outras coisas que comprei, decidi levar também um dos ovinhos kinder que estavam postos perto da caixa de super-mercado.

Foi apenas para relembrar, um gesto mais nostálgico do que qualquer outra coisa. Trata-se de respeitar o que fomos em crianças, e o que fomos deve-se também ao que comemos.
A kinder faz parte do imaginário de todos nós. Não apenas pelos chocolates, e que tantas prematuras obesidades cultivou, mas também pelo seu rico rol de anúncios televisivos. Uma coisa é verdade e temos que reconhecer – que belos exemplos esses que a kinder foi dando às crianças ao longo dos tempos.

Passo a explicar. Quem não se lembra do anúncio do ovo kinder, em que um pai chega a casa com a oferenda para o seu pequeno pupilo. Num gesto arrogante e na ânsia de o comer, a pequena criança tira o doce das mãos do progenitor, correndo pela sala, com aquele olhar de lambão matreiro! Bonito modelo para a criança comum. Ou outro em que um pai e o filho brincam com o brinde do ovinho. Entretanto o telefone toca, é um colega do escritório (a pedir ajuda porque está com herpes e a Sónia dos serviços sociais quer marcar um café! Ou qualquer outra coisa tão grave e urgente como esta…) O pai, na presença do filho e do telespectador, que em choque assiste à cena, decide mentir! «Ai! Não oiço rigorosamente nada!», enquanto liga a máquina de sumos e faz barulhos parvos. É verdade que o miúdo acha graça, mas… que pai é este?! Que não é capaz de ajudar o amigo com herpes?!
Enfim… nem só de ovos se faz a kinder e entre outros anúncios espanhóis com dobragem portuguesa temos também o délice. A história é simples, e pouco original: Uma rapariga e um rapaz, um professor, uma praia e alguns caiaques. Como podem ver, um cenário comum. (Quem não se lembra de caiaques quando pensa em anúncios de chocolates?) Ela está cansada, farta de remar, faminta! Vasculha a sua mochila, mas! A mãe fez-lhe uma sandocha sem graça… Vida triste a dela. Contudo, nem todas as mães são assim, ao que parece o seu amiguinho tem mais sorte. «Ena! Tenho dois kinder délice na mala, até te posso dar um.» E assim os dois pequenitos têm a sua saudável e feliz refeição.
Obrigado kinder! Mas, só uma coisinha. Arranja outro gajo para estar nas embalagens do Kinder chocolate, é que aquele irrita um bocado.


De regresso a Ele.
Levei-o até casa. Voltei a olhá-lo. Desta vez com atenção e com a calma que o quarto nos permitia. Lentamente, e confesso que com algum nervosismo, pois à muito que não o fazia, despi-o, tirei todo o papel envolvente. Ele olhava-me com um misto de excitação e curiosidade. Nunca tinha sido comido, não sabia se ia magoar, se ia gostar… Dividi-o em dois e qual não foi a minha surpresa ao ver que o ovo interno está com um design diferente!
Então, comi-o. O sabor era o mesmo, aquele de que me lembrava! Mas não achei nada de especial. Abri o ovo surpresa (depois de algum tempo a perceber os intricados mecanismos para que isso acontecesse… afinal funciona da mesma forma que os antigos) vi o brinde, que me desiludiu bastante… e pronto, prossegui a minha vida.

A propósito, hoje comprei tulicreme… acho que ando um bocado saudosista…

P.S.: Eu sei que as falas não são bem assim. As minhas sinceras desculpas por qualquer falha ou liberdade literária, a vós leitores e aos actores dos anúncios que tanto tempo gastaram para as decorar.

1 comentário:

Médi disse...

Uma pessoa preocupada com o teu colestrol e tu fazes isto... É triste.... À parte disso, eu e a Margarida partimo-nos a rir