sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um passeio no parque

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Era ao fim da tarde que o parque tinha mais encanto.

Quando um silêncio melodioso, quebrado pelo canto da aves, caía devagar, descendo pelas copas do arvoredo e alargando-se nas oscilações suaves do lago. Gente, era pouca. As crianças, que o enchiam com as risadas e as corridas aos pombos durante o dia, desapareciam quando o sol declinava. Ficavam os velhos esperando por coisa nenhuma, os apressados que usavam as áleas para arrepiar caminho, e um ou outro artista solitário, de ar descuidado e olhar perdido. Nenhum deles quebrava a magia do lugar. Pertenciam-lhe mesmo, ajudavam a compor a atmosfera nostálgica do jardim.

Ao fundo, eram os pavilhões vetustos, imóveis na sua ruína disfarçada, inseparáveis do espelho de água que os reflectia. Não serviam para nada, mas o parque não seria o mesmo sem eles. Deram-lhe carácter e tomaram-lhe o nome.

Nos dias de chuva havia um brilho especial. Os caminhos enlameados, as gotas graciosas que lacrimejavam das plantas, a frescura que emanava dos recantos esquecidos onde ninguém ia, punham uma nota de tristeza no ar. Mas o prazer de caminhar no éden tornava-se ainda maior.

As esculturas habitavam o parque, como se ali tivessem encontrado o abrigo perfeito para a sua serenidade eterna. E havia uma vida oculta no olhar de mármore, onde se escondiam as memórias de um tempo áureo que se esfumara há muito. Sob os plátanos surgia um rei, numa clareira relvada um escritor e perto da água, comungando com ela, erguia-se um pranto. As pérgolas, espreitando sempre nas fotos onde se reuniam famílias numa alegria domingueira, continuam lá. Só os bandos alegres foram desaparecendo.

Ficou a saudade, a memória nostálgica que sempre o foi. Havia naquele pedaço de cidade uma alma forte, uma alma decadente onde residia todo o encanto. Uma decadência consciente, que não era do desvelo da gente mas do habitar da natureza. E eu passeava pela mão da avó, disfrutando do seu amor e da beleza do parque. Não queria mais nada. Era feliz.

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