Este tédio assassino devia, tal como a gripe A (cada vez mais mortífera, como se tem visto), ser merecedor de toda a atenção do ministério da saúde. Devia elaborar-se já um plano de contenção para evitar um aborrecimento pandémico e, claro, criar uma linha telefónica para esclarecer os sensaborões. Sugeria mesmo que se fizessem consultas de planeamento lúdico, de forma a evitar as tendências de uma vida rotineira. O utente dirige-se ao gabinete do médico onde lhe é fornecido um plano de sugestivas actividades que trarão mais cor à sua tradicional pacatez. E ainda recebe um exemplar da agenda cultural.
Como o plano pode não resultar, é necessário equipar os hospitais para acolher os infectados cinzentões. Criar enfermarias especiais e salas equipadas com consolas de jogos, aparelhos de som, televisões e uma equipa sempre pronta de humoristas preparada para intervenções de choque. Reanimar, literalmente, é a palavra de ordem.
Contudo, não obstante a boa vontade, existem pessoas geneticamente predispostas ao fastio. E nesses momentos é um desgosto para a família, quando questiona o médico humorista acerca da esperança de vida do doente, ouvi-lo dizer: «Lamento, mas este bocejo não engana. Está em fase terminal.»
Para evitar este surto, o melhor é prevenir o contágio. E, pelo sim, pelo não, quando alguém vos disser que está aborrecido de morte, peguem no telefone e marquem o número de emergência. A infelicidade pode tornar-se num caso sério.
1 comentário:
Digno de crónica no Público!
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