quarta-feira, 14 de abril de 2010

Um novo século

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1900. O presidente Émile Loubet inaugura com solenidade a Exposição Universal de Paris.

A cidade cintilava com esperança no novo século. O desenvolvimento cultural, os avanços científicos, as revoluções da indústria, os cânones de gosto, o melhor de cada Estado, exibia-se com orgulho nos vastos pavilhões aglomerados em redor da Torre que, apesar das adversidades, se mantinha desde 1889 de pedra e cal, ou melhor, de ferro e aço.

Dos quatro cantos do globo, se os tivesse, chegavam milhões de visitantes assombrados com as maravilhas da electricidade, com os filmes sonoros e as escadas rolantes. Acreditava-se no progresso com a mesma força que se atribui a uma divindade superior e omnipotente. Não interessava bem como nem porquê. O fantástico era percorrer um pedaço de Paris, engalanada para a exibição e desfrutar da obra e das coisas tecidas pela mão humana.

Paris aprumou-se a rigor para a solenidade. Construíram-se gares, lançaram-se pontes, abriu-se a primeira linha de metropolitano. O Grand Palais testemunha, se bem que tenuemente, a monumentalidade das construções fundindo-se com a cidade na sua transparência de ferro e vidro.

Sem adivinhar a Guerra que havia de chegar depois, vivia-se com animação e confiança o tempo de paz e prosperidade. De resto, quem não se assombrava com inventos capazes de coisas que antes não se diriam possíveis? Já o conselheiro Pinto Porto, na Civilização de Eça, confidenciava ao fonógrafo o respeito pelas proezas daquela época.

«Maravilhosa invenção! Quem não admirará os progressos deste século?»

1 comentário:

TiagoLouriçal disse...

Carta do Visconde de Faria, António de Faria ( nascido em 1823 França - +1 901 Paris) enquanto Embaixador de S. M. junto da República Francesa para Luis Jardim, 1º Conde de Valenças:

Exmo. E meu caro Conde,

Não quero por forma alguma abusar da sua muita bondade, mas fiado na boa amizade de que V. Exa. me tem dado tantas próvas, tómo a liberdade de o incomodar para lhe pedir um ovséquio a que ligo toda a importância.
Em 1876, todos os Payses que concorrêram à Exposição internacional, que aqui teve lugar, encarregáram os seus Consules de todos os trabalhos preliminres, - nomeando-as desde logo Presidentes das Comissões que devião aqui reunir-se na ocasião da mesma Exposição, o unico paiz que não obrou assim foi o NOSSO – e foi aqui muito extranhado, que eu não tivesse sido nomeado Chefe da nossa Comissão.
Ora hoje, que já aqui estou, ha 11 annos, - e que estou nas melhores relações com todas as Estações Officiais, - creio que posso, - sem receio de ser contrariado – afirmar que sou eu o Portuguez residente em França, mas competente para dirigir e auxiliar, em todo o sentido a Commissão que o nosso Governo entender dever nomear, para nos representar o nosso Paiz na proxima Exposição, e portanto como é já tempo, sem duvida, de se pensar nisso, visto que já várias pessoas que tencionam expôr teem vindo procurar-me para me pedirem esclarecimentos, ou que lhes indique eu a quem deverão dirigir-se para esse fim; - venho por isso rogar a V. Exa. a particular fineza de usar a meu favor, do seu alto valimento, lembrando, e pedindo, como couza sua, ao Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, que quando mesmo não queria ainda nomear a Comissão que deve vir aqui Representar-nos, me nomeie a mim, desde já, Presidente d´Ella, - afim d´eu ter direito de me dirigir officialmente , sobre tudo quanto disser respeito à próxima Exposição, - quer ao nosso Governo, que ao Governo Francez...
Em 1878, apezar do nosso Governo se não ter lembrado de mim, para aquele fim, entendi aceitar, por amor pátrio, prestar n´aquela occasião, todos os serviços que estavam ao meu alcance, - e para lisongear-me de ter sido muito util, - mas alguns dos serviços que prestei, decerto já esquecêram, - eoutros sei que nunca chegaram ao conhecimento do Governo. E para V. Exa. poder fazer uma idea do que lhe digo, - vou citar-lhe dois casos em que eu intervim:
O 1º foi de ter mandado ao nosso Governo o projecto, desenho, e orçamento, de um lindo Pavilhão, para a Exposição Portugueza, que, infelizmente, não foi adoptado, mas que era muito mais bonito do que o que se fez, - e que custava metade da somma que se gastou.
O 2º. - Foi impedir que o Estatutario Francez ao fazer a Estátua para representar Portugal, - FIZESSE O DE UMA MULHER DO POVO, COM UM CESTO DE LARANJAS (!!!!!!!!!) e fazer com que adoptasse, em substituição desse projecto o de uma Senhora em toilette antiga de côrte, - tendo ao seu lado o escudo das Armas Reais Portuguezas encostadas a um trophéo d´emblemas marítimos, e tendo na mão as Lusíadas de Camões: - Estatua esta, que foi muito admirada e elogiada por toda a gente. -
Contando com as excepcional amabilidade de V. Exa., ouso esperar que se não receará a prestar-me a sua valiosissima protecção para uma causa em que tenho tanto emprenho, - mas que como V. Exa. facilmente comprehenderá só pode ser lembrada e pedida ao Governo por um bom amigo meu, e nunca por mim directamente, - o que demais a mais, não teria valor algum.
Queira V. Exa. apresentar os meus respeitos à Exma. Senhora Condessa e acreditar-me sempre com a mais particular estima,

De V. Exa.

Amigo affectuoso e obrigadíssimo

Visconde de Faria

Cota: Cartório Valenças/Correspondência/Caixa 2/maço 12/nº 8