.
Goste-se ou não, Herman José é uma referência do humor em Portugal. Ousado, inovador e provocante, se as mentalidades lusitanas mudaram ao longo das últimas décadas, um pedaço dessa transformação, por ínfimo que seja, dever-se-á a ele. Cada sketch, cada irreverência, cada golpe desferido num conservadorismo mais de fachada que de alma derrubava tabus ou esbatia pudores.
As caricaturas, da tia Pureza à Maximiliana, mostraram as fraquezas, os tiques e as pequenas misérias quotidianas que se querem esconder debaixo do tapete. Fez sucesso. Os pitorescos Nelo e Idália, com resmas de ignorância trapalhona na conveniência flagrante de um casamento de faz-de-conta ou os respeitáveis convidados do Boião de cultura, numa versão menos narrável da história portuguesa, fizeram o país rir de si mesmo.
A roda da sorte girou. Com a Última Ceia a polémica estalou, impondo-lhe um exílio temporário, longe da ribalta. Irreverências empurraram-no para um percurso nómada, em busca do tal canal.
A erosão do tempo fez-se sentir, mais tarde ou mais cedo. Novos talentos, novos formatos, novas formas de cravar ferroadas na mesquinhez que não raras vezes ainda persiste, desgastaram o humorista mas não lhe roubaram o mérito. HermanSic arrastou-se anos, num horário de domingo tardio, vazio de graças e conteúdos. O programa terminou na hora H. O declínio era evidente. Com mais do mesmo, em outros horários, forçou-se uma reabilitação, nem sempre com os melhores resultados.
Agora, anuncia-se novo regresso de Herman, desta feita na RTP. Estará ele de parabéns por voltar ao ecrã ou corre o risco de o seu humor o levar à perdição? Diz o povo, naquela sabedoria frequentemente duvidosa, que é melhor cair em graça do que ser engraçado. A ver vamos.
1 comentário:
exactamente!
Enviar um comentário