segunda-feira, 19 de abril de 2010

O homem e o betão

.

O campus do Instituto Superior Técnico, a fonte monumental da Alameda, a auto-estrada que de Lisboa não chegava ao Porto ou a mancha verde de Monsanto. Tudo isto se deve, de uma forma ou de outra, a Duarte Pacheco.

Por aquele tempo, o regime sonhava com uma Lisboa que, na sua grandiosidade austera, se impusesse com a dignidade de capital do Império. Em 40, expôs-se o mundo português aos mundos, abriu-se a Portela ao pouso de aviões e empertigou-se a cidade, numa pompa joanina desfasada das inovações que então se buscavam.

Lisboa, lugar obrigatório de realizações públicas, acabara por ombrear com o próprio Ministério, sob os desígnios do Engenheiro. Mesmo que considerasse o regime fechado, havia que o abrir à cultura e ao progresso, e deixar transparecer para além da velha Lusitânia, a imagem de um Estado que, mesmo em tempos de guerra, se mostrava pacífico na sua obra.

A ponte que hoje se discute, entre uma banda e outra, já ele a mandara estudar, no desejo de estender, a partir da capital, uma rede de comunicações que se espelhava também nas reformas dos correios e dos telefones. A via rápida ficou-se por Vila Franca, mas teve o mérito de ser pioneira. A marginal, que serpenteia ao sol pela beira do Tejo, não teve menos utilidade. Do punho de Duarte vieram projectos, planos e despachos, sementes insignificantes de onde brotavam depois os monumentos que impressionavam, por inéditos, inovadores ou grandiosos.

A ironia, que prefere dar ares de sua graça mais na tragédia que na felicidade, marcou presença no final da vida do professor e estadista. Ele que imaginara uma rede de vias de comunicação, veio a falecer num acidente automóvel, vinco do sul. Mau grado seu, não possuía a robustez do betão que lhe sustentava as obras. Sucumbiu aos quarenta e quatro anos.

A memória de quem foi permanece, no Viaduto e por toda a cidade, onde rasgos de imponência e perspectivas monumentais, traçadas para engrandecer a vastidão do Império, relembram a visão ampla do Homem.

Sem comentários: