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Na aridez do planalto central brasileiro nascia uma cidade nova, fruto dos sonhos de muitos e da vontade de um só.
Vivia-se então, pelos anos 50, uma era de prosperidade no Brasil. Caminhava, acreditava-se, para um futuro dourado, de nação forte e pioneira, rumo a um destino glorioso e vasto, tão vasto como a fatia do hemisfério por onde se estendiam os domínios de Vera Cruz.
Este foi, aliás, um dos nomes propostos para o baptismo da capital, a nova, planeada desde Pombal, no desejo grandioso de povoar um quase continente e levar ao interior, ao sertão árido e mudo, as gentes que se amontoavam nas colinas de Salvador e do Rio.
Com a independência, gritada no Ipiranga, a ideia ganhou força mas não foi longe. Era cómoda a cidade maravilhosa, que já vira reis e imperadores, banhada pela Guanabara, de clima mais risonho e luminoso.
Uma capital nova, mais além de Minas Gerais e Goiás, onde até poucos se tinham aventurado, tornou-se até coisa de lei. As Constituição deixava delimitado um pedaço da terra prometida.
Enfim, no entusiasmo do progresso, uma cidade ergue-se na terra vermelha, soprada do pó como as bíblicas personagens, abrindo as suas asas diante de um oásis azul, na gesto simples de uma cruz, de um assinalar de local, de uma ave que paira e abençoa a obra criadora. O primeiro fôlego deu-lhe Juscelino Kubitschek, depois moldou-a Lúcio Costa. Niemeyer deu-lhe corpo, o povo deu-lhe alma.
Fria, admirável ou incompreensível, de arquitectura fantástica ou repugnante, feita para a escala de gigantes que nunca a habitaram ou com as dimensões ideais, assim variam as vozes que dela comentam, sem a sentirem bem, por não terem lá raízes as gerações que primeiro a ocuparam.
Se os habitantes passam se lhe deixar marca, a obra permanece. Questione-se-lhe ou não o gosto, a virtude, a estética ou a razão de ser, a verdade é que a Brasília utópica de muitos séculos se tornou real pela vontade e pelo pulso dos homens. Mas não foram só os que as letras de bronze inscrevem na pedra dos memoriais. Foram aqueles que anónimos, indiferentes à obra que faziam, a erigiam mais pela necessidade de sobreviver que de criar.
Brasília. O sonho que persistiu, sem se desvanecer sob calor sufocante, deu razão a quem a quis, pensou e fez. Foi há cinquenta anos.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
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