segunda-feira, 7 de junho de 2010

Carlota

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Era uma vez uma princesa belga que casou com um arquiduque austríaco e foi viver para um castelo à beira-mar… Este poderia ser o início de um conto de fadas com final feliz, mas a história não foi bem assim.

Carlota da Bélgica e Maximiliano da Áustria casaram em Julho de 1857, ainda jovens, com a doçura dos ideais de quem imagina poder moldar o futuro a seu gosto e ter nele um papel principal. O arquiduque, demasiado liberal para o gosto de Francisco José, seu irmão e marido de Sissi, ambicionava transformar a sociedade daquele tempo e Carlota, filha de um rei, sonhava certamente em tornar-se rainha.

Por esse tempo, do outro lado do Atlântico, o México atravessa um período difícil da sua vida de nação. A guerra civil e as revoltas minavam-lhe a estabilidade e tornavam-no presa fácil para outros Estados com ambições imperialistas. Assim era na França de Napoleão, o terceiro de seu nome, que via no Novo Mundo uma via para expandir a sua influência. Para assumir o restaurado império mexicano seria necessário um príncipe europeu, um imperador que tivesse a proeza de reunir consenso e consolidar finalmente a paz no velho território azteca.

Na Europa, ofereceu-se a coroa imperial a Maximiliano. E se o príncipe estava relutante, logo a convicção de Carlota, vendo ali a sua coroa de imperatriz, o convenceu do quão extraordinário seria poder construir na América o império sonhado por ambos. Aceitaram. E, em 1864, na Catedral que agora quase afunda nos terrenos instáveis da velha Tenochtitlan, a princesa foi ungida imperatriz do México.

O sonho durou pouco. Não havia quem deitasse mão às desavenças da gente mexicana. Napoleão, com receio de ter ido demasiado longe, foi abandonado Max às mãos do pueblo e o clima de crispação subiu de tal forma que Carlota, numa derradeira tentativa de salvar o império, embarca rumo ao Velho Continente para buscar auxílio. Enquanto se ajoelhava diante do Papa e dos monarcas seus parentes implorando uma salvação, o seu esposo era julgado por revolucionário que o condenaram à morte. Fuzilamento.

A imperatriz, que entretanto deixara de o ser, nunca voltou a cruzar o oceano. Restou-lhe o desalento da viuvez precipitada e uma loucura que lhe quiseram diagnosticar, mesmo que os psicólogos e psiquiatras não fossem ainda os seres essenciais à existência humana em que hoje se tornaram. A história idílica da princesa transformou-se no conto triste da mulher confinada ao castelo de Miramare, que o par recém-casado construíra perto de Trieste, à beira da tranquilidade azul do Adriático.

Deixou de olhar o mar em 1927, sempre convicta de que o seu marido estava vivo e de que ela, Carlota, era ainda imperatriz do México.

1 comentário:

Samuel F. Pimenta disse...

Coitada da imperatriz, Hugo! Dos malucos não desdenhes tu, nunca se sabe quando te podes tornar num deles. xD
Gostei do blog!

Abraço.