Há jantares que não esquecemos. Porque a companhia foi memorável, porque revemos amigos de há longo tempo, porque o menu era um prazer para os sentidos, ou simplesmente porque o serviço foi tão mau que quase arruinava a noite.
Ora, a última Ceia parece reunir todos estes ingredientes. Já lá vão quase dois milénios e o mais impressionante de tudo, assim como que a provar a importância de uma simples refeição em toda a posteridade, é ver que continua na ordem do dia. Já se afastaram humoristas da ribalta, já se discutiu o sexo dos intervenientes nas pinturas do repasto, já se arruinaram jantares porque o número de convivas era o número proibido e, claro, já se decoraram milhares e milhares de salinhas de jantar com gravuras, relevos, estampas, óleos, tudo a retratar o jantar do Senhor.
De todas as representações deste episódio, umas das mais célebres é, sem dúvida, a da autoria de Da Vinci. Um cenóbio italiano, uma parede nua no refeitório, um artista famoso, e vai o Leonardo decorar o muro com um fresco de temática adequada. Como se a condição de obra de arte não lhe bastasse, tornaram-na num objecto místico. Ai, aquilo não é um apóstolo, é uma madalena arrependida. Oh, eles afastam as cabeças em triângulo e isso significa muito. Credo, que aquele gesto de cortar o pescoço é uma séria ameaça. E por aí fora.
Se isto já deu pano para mangas, imagine-se agora uma investigadora do Vaticano vir dizer que há mais segredinhos na pintura. Pois, foi exactamente o que aconteceu. A senhora diz que na janela central, onde apenas se avista uma paisagem de céu azul e colinas verdes, existe um enigma matemático. Ohh! E surpresa das surpresas, diz que o mundo acaba em 4006.
Alguém nos anda a enganar. Primeiro era em 2000, depois os Maias terminaram o calendário em 2012, agora vem o génio do Renascimento, ou alguém por ele, dizer que ainda temos mais dois milénios para continuar a fazer disparates por cá.
As datas não me preocupam. Prefiro, e recomendo o mesmo aos meus fidelíssimos leitores, que em vez de contar os dias que faltam para o fim, se aproveite cada um deles da melhor forma possível. Mesmo a sério. Como se fosse o último.
7 comentários:
Fidelíssimo é o Rei...
Código DaVinci on fire once again
Fidelíssimo é sem dúvida o Rei, por graça da Santa Sé. E fidelíssimos serão também os leitores que, como V. Exa, me concedem a graça de acompanhar fielmente os meus escritos. Deixo-lhe, por isso, o sincero agradecimento por, não obstante as adversidades, continuar a acompanhar o meu blog.
Fidelíssimos só os descendentes de S. M. F. El-Rei D. João V, por ordem de S. S. o Papa Bento XIV de generosa memória.
Todo o habitante do "...lar igual a um mosteiro, a virtude igual à clausura, a mulher igual ao diabo; pregando retiro, silêncio e recato e detestando o comércio entre senhoras e cavalheiros..." deve zelar pela boa inquirição dos textos que se publicam para verificar se atentam contra a moral pública.
"...ou simplesmente porque o serviço foi tão mau que quase arruinava a noite."
Não sei porquê, mas esta frase traz-me à memória algo...não sei bem o quê!
Martxita
Hehe! Quando o serviço é mau a noite eterniza-se.
Muito me alivia saber que parece haver alguém que zela pelo teor dos textos. Um guardião que dir-se-ia pertencer à moda velha e piamente honra a moral pública.
Bem haja e volte sempre!
Agradecido pela distinção concedida.
Enviar um comentário