sábado, 20 de março de 2010

Roi de Rome

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Foi em Paris. Dispararam-se cento e uma salvas de canhão. Era um rapaz.

Chamaram-lhe Napoléon François Joseph Charles Bonaparte e deram-lhe, num império que se queria vasto como o dos augustos Césares, o título de Rei de Roma.

Napoleão, pai, via com orgulho os seus domínios cuja extensão alcançava, por essa altura, o seu máximo esplendor. Desde Espanha às portas da Rússia, o general imperava, ali com o próprio punho, acolá com gente sua a quem distribuía os novos reinos que ia desenhando a seu gosto. Só o diabo dos portugueses lhe haviam escapado para os trópicos.

Não durou muito este triunfo. Contava o jovem príncipe imperial com três anos e já se via perdido, aos solavancos, entre um castelo e outro, depois dos fracassos nas terras frias. Se ao pai impuseram o exílio de Elba, à esposa e ao filho destinaram a Áustria, terra natal da imperatriz Maria Luísa.

As abdicações de Bonaparte a favor do jovem pouco lhe serviram. Napoleão II foi imperador de papel passado, mas nunca de facto. Ficou-se como Duque de Reichstadt.

Gozava, singela compensação, do afecto dos que lhe eram próximos. Para os outros, os poucos que ainda o recordavam, cativo em Viena, era uma espécie de mito, o que restara de um sombra que pairara por toda a Europa. Sobre ele, pairou o fantasma da tuberculose, que o levou consigo. Alguns, cépticos, falam em coisa pensada, desconfiam da astúcia de Metternich.

Victor Hugo dedicou-lhe um poema, avenidas levaram o seu nome, o primo tomou o título de Napoleão III em sua memória e Hitler devolveu os restos mortais à república francesa. Não foi o suficiente para o perpetuar.

Tinha apenas vinte anos. Duas escassas décadas de uma vida que se imaginara grandiosa mas que fora definhando num palácio ocre com janelas verdes. Uma vida breve, tão longa como o voo de uma águia.

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