segunda-feira, 15 de março de 2010

O príncipe

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Em batalha era por todos temido. O respeito que qualquer homem conquistou durante uma, duas, ou mais guerras, não se lhe podia comparar. Os seus soldados chamavam-lhe o príncipe, já no seio dos inimigos era conhecido como o guerreiro.

 Dizer que este príncipe era amado por toda a corte seria uma grosseira mentira. Não o era de facto. Possuía o seu rol de inimizades, maldizentes, e invejosos.
O próprio sultão, seu irmão, o invejava. O sentimento não era maldoso, pois nunca esquecera o grande amigo que nele encontrava, apenas natural vindo de um ser humano que encontra no seu próximo uma força e beleza mais implacáveis que as suas.

O príncipe era verdadeiramente elegante, o mais belo dos homens, como se proclama na cidade. Todas as mulheres lhe pertenciam e assim alimentava o seu maior vício. Tinha também a fidelidade de bons e sinceros homens, na luta e na mesa. E as crianças escutavam os seus sábios conselhos. Numa palavra se resume a vida deste homem, príncipe e guerreiro, amante e camarada: sucesso.

Que lhe faltava afinal, se tudo tinha? A certa altura ele próprio matutou demoradamente em torno desta mesma questão. O animal encerrado dentro de nós nunca se satisfaz, almeja sempre mais do que a verdadeira e simples felicidade, criando necessidades de coisas remotas, inalcançáveis.
Pois com tantas virtudes, também uma fraqueza lhe tocou. Ambicionou a imortalidade.

Decidiu visitar a velha maga que habitava as grutas do deserto, contando-lhe ansioso o seu desejo. Sorrindo a decrépita mulher olhou-o, profetizando, qual oráculo da verdade: Encontrarás a imortalidade, no dia em que morreres.
Ao chegar ao palácio, esgotado da viagem decidiu não esperar mais por esse dia, precipitando-se da varanda.

 O seu corpo foi enterrado num mausoléu erguido no local onde caíra. Cem dias de luto proclamados. As suas histórias de bravura e amor foram escritas e guardadas. Mas a sua imortalidade foi efémera.
Quando um incêndio lavrou no palácio, alimentando-se de todos os pergaminhos, e inimigos do império arrasaram e salgaram a cidade, do príncipe, apenas o cadáver restou.

Quantos príncipes terá a Humanidade esquecido? Quantos homens e mulheres terão sido cantados em poemas que arderam no tempo? Ironicamente, nem a História nos sabe dizer.

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