Lisboa fez-se para o sol. Da mesma forma que os telhados vienenses ganham outro encanto sob a alvura da neve ou a silhueta das cúpulas bolbosas de Moscovo se torna mais definida pelo manto branco, Lisboa só se pode admirar plenamente quando uma claridade soalheira incide sobre ela.
São Pedro de Alcântara, o Castelo, a Graça e os outros miradouros, as pequenas praças, as esplanadas junto ao rio, a relva da Gulbenkian, os vasos floridos nas janelas de Alfama, são pequenas maravilhas que só é possível saborear debaixo de um céu azul e tépido.
O Inverno não é favorável à cidade. Com a chuva, a sua graça perde-se entre as gotas miudinhas, e a pressa em escapar das nuvens cinzentas não deixa tempo para admirar pequenos detalhes, nem aproveitar muitos momentos ao ar livre.
É certo que o sol espreita de quando em quando, mesmo nos meses mais frios. Ou espreitava. Nos idos de Outubro, clamava-se com estranheza pelo frio que não chegava. Os dias ainda longos, a brisa sufocante, o ar pesado que custava respirar. O tempo não tardou a vingar-se e trouxe, logo a seguir, um Inverno bem rigoroso que nos mantém numa vida artificial sob a atmosfera cinzenta. Há semanas que o sol não brilha.
E não há guarda-chuva ou aquecedor que me valham. Acordar com chuva lá fora desperta imediatamente o preguiçoso que há em mim. Ir para a rua? Escapar das poças para depois receber um banho de algum automobilista menos simpático? Não, não mesmo.
As esperanças de melhores dias deposito-as todas na Primavera que, creio, não há-de tardar. Até lá, fica o meu voto de protesto meteorológico. Ah! Mais uma coisinha. Se, volvido um ano, voltarmos a estas condições, corro para o Brasil e enfio-me numa cobertura, daquelas com 400 m2, cheia de luz e de frente para o mar. Depois é ver-me a passar seis mesinhos regalados na cidade maravilhosa. Regressar ao hemisfério norte só mesmo quando a nossa Lisboa estiver bem luminosa.
Fica o aviso. Tal é a vontade de chegar ao aeroporto e apanhar o primeiro voo da TAP para o Rio de Janeiro que deixo somente uma justificação, qual Alice Vieira, para a minha ausência sazonal. Se perguntarem por mim, digam que voei.
1 comentário:
Voaste!
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