.
É já para a semana. Quem não espera ansiosamente por um piquenique no Parque? Pronto, só pelo piquenique talvez não, mas um onde esteja presente o Tony Carreira… bom, aí o caso muda de figura.
Pois é. O coraçãozinho verde de Lisboa vai encher-se de gente para petiscar ao som do mais famoso cantor… hum… romântico. Dizer pimba poderia ferir susceptibilidades. E assim, no próximo sábado, haverá no Parque Eduardo VII uma concentração deliciosa de tupperwares, sandochas, bejecas, caracóis e tudo o mais que a gíria gastronómica popular permite.
Claro que não podemos esquecer a algazarra familiar, os gritos das crianças, as ordens esganiçadas das mães, as gargalhadas e o catarro dos chefes de família, a juntar ao harmonioso boné, à t-shirt da selecção, ao chinelo que exibe os orgulhos joanetes.
E, qual cereja em cima do bolo, que neste caso há-de vir embrulhado em guardanapos de papel, há ainda o palavrão, a asneira que naturalmente se desprende dos lábios gordurosos dos convivas, o nome dos rebentos lançado no ar, clamando pelos rubens, ronaldos, vanessas e marlenes deste mundo e da outra banda.
Bons tempos, aqueles em que o reles piquenique se tornava numa simpática garden-party. Com aprumo, as senhoras e os cavalheiros, nos seus trajes claros, cavaqueavam pela relva gozando dos ares lavados da natureza. As merendas, trazidas por lacaios, eram confeccionadas com o mesmo cuidado que se poria num jantar oficial servido na melhor baixela da casa. Sem esquecer as boas maneiras, o ambiente descontraído propiciava a conversa ligeira e as apresentações menos formais e mais apetecíveis.
Entre uma e outro, passou mais de um século. O encanto de pequenas coisas tornou-se no espectáculo indiferente para as massas. Pegue-se na ideia clássica do momento de lazer ao ar livre, em nada discutível, junte-se-lhe o patrocínio de uma marca e um cantor que comove desde a senhora das limpezas até à porteira, depois um espaço bem no centro da cidade, para dar um contraste interessante, e eis a receita ideal para um encantador sábado popular.
Perdida que está a esperança no regresso dos bons hábitos da garden-party burguesa, torça-se para que o piquenique popular não rejeite as preocupações ecológicas. Se a derrocada da sociedade parece inevitável, ao menos que se poupe o ambiente.
sábado, 29 de maio de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
nem mais. "desde a senhora das limpezas até à porteira" está fantástico!!
Enviar um comentário