segunda-feira, 31 de maio de 2010

La paix

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Constantinopla

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Foi por estes dias que Constantinopla caiu. Não foi um simples tropeção ou uma escorregadela ligeira, mas uma queda à séria, com um tombo de tal ordem que o Império Bizantino ficou com os dias contados.

Estava-se em 1453. Os otomanos, naquela gulodice costumada que os impérios têm por novos territórios, iam tomando os locais que outrora haviam sido do Império Romano e andavam de olho na cidade de Constantino, preparando-lhe há muito um assédio insistente.

As muralhas e os súbditos bizantinos provaram ser resistentes. A cidade estava cercada, as muralhas eram alvo de ataques otomanos e mesmo assim faziam-se esforços para reparar os muros e reforçar as defesas. Uma corrente havia sido colocada sob a água, no Corno de Ouro, para que os navios inimigos não pudessem aproximar-se. Estratégia eficaz até o sultão se lembrar de rebocar os navios por caminho seco, até contornar a corrente e penetrar do interior do golfo, mesmo diante da cidade.

A resistência enfraquecia. Maomé II trazia consigo um canhão de dimensões descomunais, com que ia desgastando os muros que protegiam Bizâncio. Um eclipse, tempestades e outras coisas que tais eram entendidas como maus presságios para os sitiados. Não se enganavam muito. Os muçulmanos preparavam um ataque em força, uma espécie de golpe de misericórdia, para encerrar de vez o capítulo da tomada de Constantinopla.

Deu-se a vitória. O imperador, o décimo primeiro Constantino, foi visto a desaparecer na massa dos combates e logo o sultão entrou triunfante numa das cidades mais cobiçadas a oriente. O seu simbolismo era tal que se tornou capital desse mesmo Império Otomano, exibindo com orgulho o poderio muçulmano.

A cidade permanece, ali entre um continente e outro. Os impérios correram os séculos, preguiçosamente. Se o herdeiro oriental do Romano se estendeu até meados do século XV, o Otomano que se seguiu aguentou-se até 1922. Oito anos depois veio a república, que, à semelhança do que por cá se fez, remexeu e alterou a toponímia da tradição. Desde 1930, a capital da Turquia passou a chamar-se Istambul.

Porque os tempos mudam as vontades, a cidade que os otomanos tomaram ao ocidente quer chegar-se à Europa onde já cintilam vinte e tal estrelinhas. O provérbio diz que a União faz a força. Cá estaremos para ver.

domingo, 30 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 29 de maio de 2010

All you need is love!

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Garden-party

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É já para a semana. Quem não espera ansiosamente por um piquenique no Parque? Pronto, só pelo piquenique talvez não, mas um onde esteja presente o Tony Carreira… bom, aí o caso muda de figura.

Pois é. O coraçãozinho verde de Lisboa vai encher-se de gente para petiscar ao som do mais famoso cantor… hum… romântico. Dizer pimba poderia ferir susceptibilidades. E assim, no próximo sábado, haverá no Parque Eduardo VII uma concentração deliciosa de tupperwares, sandochas, bejecas, caracóis e tudo o mais que a gíria gastronómica popular permite.

Claro que não podemos esquecer a algazarra familiar, os gritos das crianças, as ordens esganiçadas das mães, as gargalhadas e o catarro dos chefes de família, a juntar ao harmonioso boné, à t-shirt da selecção, ao chinelo que exibe os orgulhos joanetes.

E, qual cereja em cima do bolo, que neste caso há-de vir embrulhado em guardanapos de papel, há ainda o palavrão, a asneira que naturalmente se desprende dos lábios gordurosos dos convivas, o nome dos rebentos lançado no ar, clamando pelos rubens, ronaldos, vanessas e marlenes deste mundo e da outra banda.

Bons tempos, aqueles em que o reles piquenique se tornava numa simpática garden-party. Com aprumo, as senhoras e os cavalheiros, nos seus trajes claros, cavaqueavam pela relva gozando dos ares lavados da natureza. As merendas, trazidas por lacaios, eram confeccionadas com o mesmo cuidado que se poria num jantar oficial servido na melhor baixela da casa. Sem esquecer as boas maneiras, o ambiente descontraído propiciava a conversa ligeira e as apresentações menos formais e mais apetecíveis.

Entre uma e outro, passou mais de um século. O encanto de pequenas coisas tornou-se no espectáculo indiferente para as massas. Pegue-se na ideia clássica do momento de lazer ao ar livre, em nada discutível, junte-se-lhe o patrocínio de uma marca e um cantor que comove desde a senhora das limpezas até à porteira, depois um espaço bem no centro da cidade, para dar um contraste interessante, e eis a receita ideal para um encantador sábado popular.

Perdida que está a esperança no regresso dos bons hábitos da garden-party burguesa, torça-se para que o piquenique popular não rejeite as preocupações ecológicas. Se a derrocada da sociedade parece inevitável, ao menos que se poupe o ambiente.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Archivo Photographico

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O escriptor Eça de Queiroz

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Habitez-moi

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Veneza do norte

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Há pouco mais de três séculos, o czar Pedro I lançava a pedra inaugural de uma nova cidade, aos pés do Báltico, pensada para servir de capital a todas as Rússias.

Nascida da força de milhares homens e da vontade de apenas um, São Petersburgo emergiu dos pântanos com a força que a pedra lhe trazia. O czar proibira expressamente construções de madeira, que, entendia a Real pessoa, não eram de bem num local que ambicionasse reproduzir Paris ou Viena.

Ao jeito de Veneza, foi crescendo por entre canais que drenavam o lodaçal dos terrenos. Ponte aqui, fortaleza ali, palácio acolá, a cidade foi ganhado cor, forma e alma no desejo de se mostrar digna das escolhas dos seus habitantes imperiais. Num romance eterno com o rio Neva, nome que não podia calhar melhor nos glaciais invernos russos, envolvendo-se na brancura das noites, tornou-se um ícone da aura mágica que envolve a distante Mãe-Rússia.

Ganhou personalidade e vontade própria. Europeizou-se mas sem perder aquela pitadazinha de cúpulas em bolbo, das iconóstases das catedrais ou dos delírios barrocos das fachadas nobres das grandes casas. Assistiu a revoluções, mortes trágicas, passou fome e todas as privações. Mudaram-lhe o nome mas depressa retomou o baptismo original.

Pedro, o Grande, ou Catarina II, do mesmo tamanho, deixaram sobre a cidade a força das suas vontades. Depois, os czares menos temerários refastelaram-se nos palácios de veraneio em torno da cidade. Pavlovsk, Tsarskoe Selo ou Gatchina tornaram-se planetas satélites da grande cidade, em torno da qual gravitava a corte imperial, receosa de atentados e multidões enfurecidas na Praça do Palácio, fosse verão ou inverno.

Petrogrado, Leninegrado, ou Petersburgo, o rosto não lhe muda. Marcado por fortes cicatrizes, que dificilmente sararão por completo, há-de manter o encanto e, a cada dia que passa, mergulhar mais docemente no manto nostálgico que a envolve suavemente.

Get a crown

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Vittorio Emanuele di Savoia

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Long live the Tsar

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Da idade

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Celebra hoje o octogésimo oitavo aniversário.

O grande mérito é o de ser uma daquelas figuras que sente a necessidade de fazer, de caminhar ao longo do tempo e da vida com a força de quem quer e sabe o quê. Foi como funcionário público que começou, qualquer coisa como engenheiro de segunda classe, naquela hierarquia complexa que estrutura(va) a administração pública. Colaborou no projecto dos jardins da Gulbenkian, premiados em 1975, onde já dava mostras das fortes preocupações ambientais e ecológicas que têm acompanhado o seu trabalho.

Ao mesmo tempo, militava pelas causas que abraça com convicção. Militava na Juventude Agrária, depois em sessões do Centro Nacional de Cultura que discordavam das orientações do regime. Apoiou Humberto Delgado.

Depois da revolução, foi entrando pelo governo. Responsável pela Secretaria do Ambiente, chegaria a ministro da Qualidade de Vida, infelizmente extinto, talvez por correr o risco de se tornar um ministério sem funções. Elegeu-se deputado outras tantas vezes, concorreu à Câmara Lisboeta e ainda fundou o Partido da Terra.

Deu aulas, consagrando-se em Évora. O Jardim de Amália, bem no topo do Parque, a ele se deve também, projecto quando a idade não permite grandes coisas à maioria.

Ainda hoje é um gosto vê-lo passar, na rua ou no metro. Ao caminhar, mãos cruzadas e rosto firme, deixa no ar a certeza de que a idade não é prova de nada, muito menos de incapacidade. E é um gosto ver crescer a sua obra, mesmo que já bem perpetuada, com o Caminho Verde de Monsanto, a convidar a passeios de bicicleta e saberá o arquitecto quantos mais projectos ainda lhe traçará o pulso.

Velhos, só mesmo os trapos.

Retrato de família

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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Já mudou?

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Quando se pensa na Baixa pombalina, a primeira imagem é de uma zona antiga, degrada, de prédios cinzentos e monótonos, com lojinhas meio decadentes, turistas e muito trânsito à mistura, descendo o Ouro e subindo a Prata. Não há espaços muito convidativos ou lojas que vão de encontro aos gostos das massas. Mas há retrosarias que vendem o que já ninguém precisa, pequenos cafés, lojinhas cheias de tralha que surpreendem pela longevidade, outros sítios que só o passa a mensagem permite conhecer e aproveitar. Há gente de todas cores e tamanhos, para todos os gostos e variados trajes e, claro, vendedores de substâncias menos legais.

E há o MUDE. Que a Baixa precisa de um bom abanão, precisa. E só uma mudança a sério a pode tornar no centro de uma cidade cosmopolita, como Lisboa gosta de se imaginar. Por isso, criar um museu dedicado ao design e à moda, já parece interessante. E melhor ainda será, se for instalado mesmo a dois passos do Terreiro só de um, onde tantos turistas passam, dedicando mais atenção aos pormenores da cidade que aqueles transeuntes apressados de todos os dias, que imaginam conhecer a cidade apenas por nela viverem.

Foi exactamente o que aconteceu, e há pouco mais de um ano o MUDE abriu portas, de par em par para a rua Augusta. Até aqui nada de surpreendente. O imprevisto está no conceito do próprio museu. Expor objectos de design e vestuário, torná-los peças de museu e permitir que o público os observe e compreenda, não é novidade, mas fazê-lo num edifício ainda em obras, com o betão e o aço da estrutura, tão exposto como as cadeiras e os vestidos, é um tudo nada mais arrojado. E assim o antigo Banco Nacional Ultramar, nome pomposo para uma instituição cuja vida se prolongou mesmo quando só restavam os Açores, a Madeira e Macau, viu-se convertido, antes da demolição total, em espaço museológico.

O work in progress está para durar e oferece a possibilidade pouco frequente de acompanhar a história de um museu, passo a passo, degrau a degrau, até crescer por todo o edifício. Agora, é aproveitar o presente e deitar um olho à exposição embrionária. Se não ainda não mudou, não se esqueça. Nunca é tarde.

domingo, 23 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 22 de maio de 2010

Cliché lusitano

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As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.

Luís Vaz de Camões

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Archivo photographico

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A família d'El-rei D. Carlos

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Élégant

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Da meteorologia

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Quem semeia ventos, colhe tempestades.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Le Sacre

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Foi há 206 anos

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Expectativas

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Antes de se suicidar, pareceu-lhe que o melhor seria não pensar no futuro.

domingo, 16 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 15 de maio de 2010

Petit roi

petit.
Louis XIV
Henri Testelin

Ao serão

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Apeteceu-lhe escrever, sentar-se e ligar o pequeno candeeiro que exalava uma luz quente e difusa pelo amontoado de papéis e livros espalhados no tampo da secretária. Lá fora, sentia do outro lado da janela, já cerrada e escondida sob os reposteiros de veludo, a nudez da noite, gélida e muito limpa, cortante com o seu frio atroz. Não ligou o aquecedor. Em vez disso, embrulhou-se num casaco velho, grosso e coçado, e afundou o pescoço num cachecol de lã. A casa, sonolenta, envolta pela fraca luz que passava para o corredor pela bandeira de vidro aos quadradinhos sobre a porta, estava deserta. O gato dormia a um canto, enroscado no cestinho de vime, que ele pusera perto do sofá de veludo verde, longe das frinchas das janelas por onde soprava uma aragem fininha que os rolos de esponja colocados rente ao soalho não conseguiam impedir de penetrar na sala.

Pegou na caneta, ergueu-a ainda um momento sobre o papel, muito limpo, muito branco, ainda sem alma. Mas não lhe saiu nada. Voltou a pousá-la e deixou a folha de papel, a que não dera vida, sobre a mesa. Arredou a cadeira, levantou-se, caminhou até uma das janelas. Afastou ligeiramente a pesada cortina e espreitou para baixo, para a rua, deserta àquela hora tardia. No passeio em frente, sob a luz amarelada dos candeeiros centenários, não passava ninguém. Uma vez por outra, no alcatrão, deslizava um táxi com a sua luzinha a indicar como estava livre, pronto a receber um transeunte congelado, arrependido de se ter lançado a pé na noite polar. E na correnteza de janelas, regulares e mudas, do palacete que ficava em frente, não se distinguia nenhuma claridade por detrás das portadas cerradas, onde ele imaginava as salas e os gabinetes vazios, despejados de gente, que findo o expediente se apressava a correr para perto das lareiras e aquecedores que tivesse em casa.

Uma sombra passou, recortando-se contra a claridade, muito negra, esguia, escondida num sobretudo de gola alta. Teve um arrepio, deixou cair o cortinado e reentrou no conforto que a sala, estofada, forrada e atapetada com abundância, lhe oferecia tranquilamente. Aproximou-se do canapé e, sentando-se vagarosamente, abriu o livro que deixara na mesinha de apoio onde, protegida pela vastidão do abat-jour, se aninhava uma colecção de pequenos frasquinhos de cristal.

Não terminara ainda a primeira página e logo a campainha retiniu, estridente e abrupta, quebrando o conchego dormente que a luz ténue fabricava. O gato acordou, sobressaltado, mas, certo do desinteresse do visitante, depressa se enroscou novamente cobrindo-se com a cauda felpuda. Ele permaneceu imóvel, o livro aberto no colo, a perna traçada, o braço apoiado no sofá.

A noite passou, e com ela quatro estações.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Archivo photographico

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O marquês de Soveral

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Vox populi

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Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube.

Monarquia em flor

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A Fé e o Império

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A 13 de Maio, no ano de 1888, assinava-se no Paço Imperial do Rio de Janeiro a lei que baniu dos territórios brasileiros a escravatura.

Passo de gigante, mais ainda num país sustentado pela mão-de-obra negra, aquela que chegava em navios e se descarregava nos portos como se de açúcar ou de algodão se tratasse. Quando a expressão dos direitos humanos ainda não tinha sido inventada pelas nações Unidas, erguiam-se já movimentos que batalhavam pela extinção de semelhante crueldade, do tratamento ignóbil dado a gente da mesma raça.

Outros havia, senhores do café, de monopólios assentes na massa humana, que se indignavam contra preocupações tão descabidas por gente inferior, se é que de gente se tratava. A compra e a venda eram feitas com a mesma facilidade de ida à mercearia. O Brasil cairia sem eles, sem esses produtos africanos que lhe aguentavam a economia e a prosperidade, ao menos aparentes.

Venceram os abolicionistas. E estando Sua Majestade Imperial de passeio pela Europa, onde o prendiam as raízes familiares, coube à princesa sua filha promulgar a lei, que o povo agradado chamou logo de Áurea.

Quase um milagre. Juntou-se gente diante das régias varandas e festejou-se com júbilo a aparição de Sua Alteza, ao mesmo tempo que o caloroso sol tropical iluminava a praça fronteira. Muitos disseram tê-la visto, outros duvidaram que Isabel, cognominada de A Redentora tivesse assomado à população. A verdade é que a lei se fez e se cumpriu.

E se ainda hoje, mesmo que as leis o não permitam, os homens se mantêm escravos de si mesmos, não é por carecerem de uma alforria, mas antes pela necessidade misteriosa de se entregarem ao fanatismo irracional das ideologias, dos desportos ou dos credos.

A liberdade, essa, não passa de uma ilusão.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Lo scalone

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terça-feira, 11 de maio de 2010

Drama(turgia)

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Com o passar do tempo e o vazio de ideias, receava tornar-se numa personagem plana.

Comme il faut

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segunda-feira, 10 de maio de 2010

O Tibre e o Tejo

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Que anda tudo louco com isto do Papa, que se retoca o Terreiro do Paço ainda mal acabado, que se interditam ruas e avenidas, que se arranjou mais um pretexto para folgar do emprego, que se engalanam as varandas com estandartes alusivos à ocasião, nada disso é novidade.

Melhor ou pior, há que compreender o fervor efusivo da larga fatia de população que se afirma católica, mesmo que diga «sim, mas não praticante». Bom, ao menos que lhes fiquem os valores. Querem ver Sua Santidade, acenar-lhe com efusão, ou ao menos entrever os reflexos metálicos do papamóvel ou avistar, no cimo do seixo que lhe serve de palco, a mitra reluzente do Príncipe da Igreja. Vontades e desejos que, de resto, merecem respeito, e nada se aponta a que o Estado português receba com honras um Chefe de Estado estrangeiro.

A coisa tornou-se hoje mais interessante. Banho tomado, roupa vestida, e vá de saltar para a rua. A dois passos, logo ali na avenida, avista-se um autocarro engalanado com bandeirolas amarelas e brancas. Nada como ver de perto.

E eis que as viaturas, carregadinhas de povoléu logo pela manhã, coisa que as cabeças aglomeradas atrás dos vidros baços não faz duvidar, agitam alegremente bandeiras do Vaticano. Não é só. No visor, onde é conveniente que surja o destino e o número da carreira, lê-se que a Carris saúda o Sumo Pontífice. Informação de extrema relevância, até porque, estando o trânsito interrompido nas vias por onde Bento XVI há-de passar, dificilmente chegará ao seu conhecimento que a transportadora alfacinha tanto esmero põe nas saudações pontifícias.

E assim, logo pela manhã, a sacra azáfama arranca aos lábios um largo sorriso. Ali, em plena Avenida da República, rodeado de bandeirolas vaticanas, estandartes e polícia, julguei-me na Via della Conciliazione. E temi, alongando a vista até lá ao fundo, vislumbrar, onde outrora julgava o Atrium Saldanha, a cúpula monumental da Basílica de Pedro.

Mas não. Como sempre, a Lisboa costumada levanta-se em redor, muito ufana, engalanada com vaidade, esticando-se nos seus frágeis bicos dos pés, antes de recair na velha cantiga da molenguice quotidiana.

À falta de remédio para os crónicos males do povo, ao menos que se aproveite a efeméride.

domingo, 9 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 8 de maio de 2010

A cor(te)

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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Don't cry for me

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Uma multidão serena espraia-se diante da varanda da Casa Rosada, onde Evita canta para a multidão. A encenação musical guardou para a história uma imagem idílica de Eva Duarte, Perón por casamento, rosto que a Argentina confunde consigo mesma.

Nascida a 7 de Maio, no mesmo ano em que, por cá, o azeite Gallo começava a cantar, a ambição que lhe crescia em pequenina, materializou-se na mulher já adulta. Na simplicidade rústica que conhecia, sonhava com uma vida de glamour e boémia, de sucesso e bem-estar. Julgavam-na iludida, mas nas voltas que a vida dá, e nas voltas que Eva deu até Buenos Aires, conheceu o general que havia de a levar, primeiro à varanda, depois ao mundo.

Viviam-se tempos difíceis. Juan Domingo Perón assumiu a Argentina em 1946 e moldou um estado de gosto autoritário e paternalista, como os que iam também pontilhando pela Europa. Aos descamisados, à gente rude e sofrida, do campo e das fábricas, Eva, Perón desde 1944, surgia como a mãe protectora, a alma desvelada, a matrona das obras sociais. Com carinho, chamaram-lhe Evita, sem saber do conforto e dos caprichos que desfilavam do outro lado das paredes rosadas da Casa, erguida entre a Plaza de Mayo e o rio da Prata.

Trinta e três anos apenas, que a vida não se alongou mais, bastaram para construir o mito. Quiseram canonizá-la, puseram-lhe o nome numa cidade e os anos não travaram a discussão. Santa, cruel adversária política, impiedosa ou simplesmente mulher? Uma mulher ambiciosa, implacável e simultaneamente consciente do seu papel simbólico numa nação que o tempo tornou nostálgica?

A resposta é daquelas que a disparidade de olhares e de ideias não permite. A História, volúvel e inconstante como os homens que a fazem, nunca a encontrará.

Archivo photographico


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El-rei D. Carlos e D. Amélia

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Vox populi

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Quem com cães se deita, com pulgas se levanta.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Élégant

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Ficções

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Foi até à varanda contemplar a noite. Soprava uma brisa leve, daquelas que traz consigo recordações de bons momentos na serenidade tranquila de um final de dia. Lembranças, paixões, pequenos nadas nostálgicos que lhe alimentavam o desejo de sentir-se vivo.

Alimentava-se do passado pela necessidade de ter em si a consistência dele próprio, a noção de que, como uma planta, ia criando raízes à medida que desabrochava. Apoiado no balcão, aspirando o sossego do luar e o vazio escuro lá de baixo, não pode deixar de sorrir ao pronunciar interiormente a palavra. Diabo de malícia, nem assim lhe escapava.

Voltou para dentro, acolhendo-se na luz tépida do quarto e na suavidade dos lençóis. Era depois de se enroscar neles, ao rever os dias, que sentia o maior prazer. E sonhava depois, sonhava ambiciosamente, mas com os pés tão assentes no chão como quando matinalmente despertava e saltava da cama.

Desprezava a ficção, sorria dos sonhos e gozava a vida.

terça-feira, 4 de maio de 2010

À la Reggia

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segunda-feira, 3 de maio de 2010

O tempo, esse grande escultor

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No dia em que uma estátua é acabada, começa, de certo modo, a sua vida. Fechou-se a primeira fase em que, pela mão do escultor, ela passou de bloco a forma humana; numa outra, ao correr dos séculos, irão alternar-se a adoração, a admiração, o amor, o desprezo ou a indiferença, em graus sucessivos de erosão e desgaste, até chegar pouco a pouco, ao estado de mineral informe a que o seu escultor a tinha arrancado.

Marguerite Yourcenar

domingo, 2 de maio de 2010

Le Grand Tour

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sábado, 1 de maio de 2010

Das exposições

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Hoje em Shanghai, há mais de século e meio em Londres, inaugurava-se com solenidade uma Exposição Universal.

O plano era mais que ambicioso. Reunir num só lugar, sob uma ampla abóbada de vidro, os progressos industriais de todas as nações. Duplo mérito da Grã-Bretanha, que além de ostentar as suas capacidades técnicas e científicas, mostrava igualmente a capacidade de acolher um mundo inteiro no seu modesto território insular.

Seis milhões. Seis milhões de visitantes que, em 1851, desfilaram por Hyde Park, percorrendo o globo sem abandonar a sombra do arvoredo e as luminosas naves do Palácio de Cristal.

Tal foi o sucesso da Exposição, pioneira, que quatro anos depois se delineava uma outra em Paris. Por cá, o Porto ergueu também o seu palácio, à escala que podia ter, que um pavilhão de desportos substituiu abruptamente

Na Grande Exposição, a indústria dera o mote. Na China de 2010 pensa-se numa melhor cidade que traga melhor vida, sempre com um pé no desenvolvimento sustentável. Entre uma e outra, o mundo mudou. Sinal dos tempos e das vontades, resta esperar que não seja tarde para encontrar o equilíbrio.