sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Deitar cedo e cedo erguer

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As estações de metropolitano são pródigas em pérolas publicitárias. Esta, especialmente atractiva pela importância da informação e pertinência da questão, devemo-la a um anunciante que prefiro não mencionar, até por não ter qualquer vantagem em divulgar o Inatel.
Diga-se que a afirmação, que me parece pertencer a um vasto grupo de estatísticas dificilmente apuráveis com rigor, deve ser bastante verossímil. A pergunta surpreende-me. Não sabemos todos que é de madrugada que mais se trabalha? Pois é. Por isso, o esclarecimento sobre o que fazemos até o sol nascer é simples: produzimos!

Um ou dois exemplozitos, para tornar a ideia mais clara. Na faculdade, no início de cada semestre, impõem-nos uma série de trabalhos de interesse discutível. Quando os fazemos nós? Na véspera da data limite de entrega, três meses após o começo das aulas… E como a benevolência de alguns professores atinge níveis enternecedores, permitem-nos usar as novas tecnologias e enviar uma cópia do texto por e-mail, mesmo até à meia-noite. Depois do clique final há um momento de terror, ao perceber que faltou rever o texto ou acrescentar a bibliografia. E há-de ser um espectáculo bonito, ver a caixa de correio electrónico dos senhores, entupida com trabalhos que só começaram a chegar lá para as 23h53.

Para quem, felizmente, já ultrapassou esta fase, não existem grandes diferenças. No escritório, logo de manhã, de olhos inchados e raciocínio especialmente lento, dormita-se um bocadinho diante da secretária. A seguir, o café e o almoço ajudam a despertar. E durante a tarde, já a todo o vapor, quase no auge da capacidade de trabalho, aproveita-se para fazer aquele telefonemazinho para a família, bisbilhotar o facebook e esboçar um ou dois posts para o blog do escriturário. Quanto ao relatório que deveria estar na mesa do director desde a véspera, pode sempre ser acabado em casa, ao serão, mesmo que tenham de se introduzir dados no computador até à hora de acordar.

Eis pois esta necessidade de produzir, de labutar, que nos mantém despertos até tão tarde. Se ainda restam dúvidas, veja-se a confirmação: passa das três horas da manhã e aqui estou, alcandurado no belvedere, deliciosamente ocupado a rabiscar mais uma contemplação.

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